Pavilhão das Formas Sociais

Mariana Silva

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Pavilhão das Formas Sociais problematiza a relação histórica entre sociedades animais e humanas, analisando o movimento de enxames e multidões, e algumas das suas mutações recentes. O pavilhão compara coletivos humanos e insetos sociais – como formigas e abelhas – e como a relação porosa entre natureza e cultura permeia políticas sociais, noções de tecnologia, e o desenvolvimento da inteligência artificial. Numa era em que o controlo e a vigilância não se parecem opor aos ideais de horizontalidade e imanência: de que forma é que visões tecno-utópicas informam sistemas tecnológicos vigentes? Quando é que estes reconfiguram o espaço de potencialidade do corpo político e quando é que estes se tornam numa ideologia?

A história dos insetos sociais coloca questões sobre instinto, opostas em termos evolucionários à inteligência desde Darwin, representando estranheza e alteridade em contraposição à inteligência humana. Perguntando como é que a inteligência animal ou o comportamento de multidões podem ser reinterpretados na era algorítmica, esta exposição cruza eixos de reflexão, que se encadeiam nos vários espaços do pavilhão.

A série de novas comissões de Mariana Silva continua a temática que a artista desenvolveu no ano passado, sob forma de ficção especulativa, em Olho Zoomórfico (Museu Gulbenkian, 2017), ampliando-a em diferentes obras. No Pavilhão das Formas Sociais, a artista parte de um léxico visual composto por imagens documentais, dando primazia à referenciação cruzada de materiais e cronologias científicas e biopolíticas, incluindo elementos como a ficção série B de Hollywood. Na entrada do Pavilhão encontramos uma cronologia que inclui referências sobre a história social dos insetos e multidões. Nas salas contíguas do piso térreo, encontramos uma série de ecrãs justapostos às janelas do jardim, onde podemos ver excertos de filmes ficção científica e desenhos animados que incorporam também narrativas com insetos, formigas, e multidões humanas.

Ambas as salas incluem também uma série de réplicas de formigueiros da espécie Pogonomyrnex badius em metal e papier-maché, elaboradas pelo artista Edgar Pires. Formigueiros estes que partem das formas obtidas pelo mirmecologista Walter Tschinkel, que ao fazer o levantamento dos mesmos preenche com metal fundido os orifícios cimeiros do formigueiro, revelando a matriz do espaço negativo escavado e a complexidade da sua arquitetura subterrânea.

Nestas salas podemos observar a relação entre as esculturas e os vídeos tendo como pano de fundo o jardim, enquanto acedemos a entrevistas com teóricos como Charlotte Sleigh, autora de Six Legs Better: A Cultural History of Myrmecology (2007), Jussi Parikka, autor de Insect Media: An Archaeology of Animals and Technology (2010), Tania Munz, autora de The Dancing Bees: Karl Von Frisch and the Discovery of the Honeybee Language (2016), e o teórico cultural Stefan Jonsson autor de A Brief History of the Masses: Three Revolutions (2008).

No andar superior do Pavilhão das Formas Sociais é mostrado um novo vídeo, Enxames/Turbas (a partir de Networks, Swarms, and Multitudes), que revisita a reflexão em torno de redes, enxames e multitudes de 2004 do filósofo Eugene Thacker o interesse de diferentes áreas de estudo de formas imanentes, seja na tecnologia, biologia ou filosofia, perguntando com Donna Haraway se “haverá uma unidade de análise mais pequena do que a relação?” e propondo uma reflexão sobre a mutação na nossa conceção de corpo político.

Apresenta-se também do ponto de vista do mamífero, uma peça desenvolvida pela artista em 2017, onde podemos ver um inseto a ser indexado num museu, enquanto uma voz off nos reporta para a perspetiva de mentes não-humanas, sejam elas animais, alienígenas, ou robóticas, e onde conseguimos encarnar o ponto de vista de um inseto, ou mamífero mutante, na reificação da sua própria singularidade ocular.

– Margarida Mendes, curadora

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