O Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, localizado à beira-rio, perto de Belém, afirma-se como um espaço de valor histórico e patrimonial, enquadrado numa das primeiras áreas industrializadas de Lisboa. A Cordoaria Nacional surge como unidade manufatureira de grandes dimensões, na qual se fabricavam produtos essenciais às atividades marítimas. O edifício remonta à década de 1770 quando, por ordem do então Primeiro Ministro Marquês de Pombal, é decretada a construção da Real Fábrica de Cordoaria nos terrenos contíguos ao Forte de São João da Junqueira.
Seguindo um projeto atribuível ao arquiteto Reinaldo Manuel dos Santos, a planta distribui os diversos espaços funcionais de forma modelar, destacando-se o corpo central – longo e paralelo ao rio – onde estava instalada a oficina de cordame. Nas áreas adjacentes, funcionavam secções de tinturaria, engomagem, urdidura arranjada, velame, alfaiataria e bandeiras, tecelagem, materiais de limpeza, além de espaços de apoio como a carpintaria, a serralharia e os serviços administrativos. Após um início florescente, sucedeu-se um período de menor atividade fabril. Para dar um novo impulso à produção, foi proibida a importação de cordame. Em 1902 instalou-se numa parte do edifício a Escola de Medicina Tropical, passando a designar-se, em 1937, Instituto de Medicina Tropical.
Com cerca de 1.250 m2 de espaço expositivo o Torreão Nascente da Cordoaria Nacional foi estabelecido em 1995, através de um protocolo entre a Marinha Portuguesa e a Câmara Municipal de Lisboa. As Galerias Municipais organizam exposições neste espaço desde 2003. Uma livraria instalada no local disponibiliza o conjunto de edições relacionadas com os projetos expositivos das Galerias Municipais.
O Projeto e as obras de Renovação. 2020/2023
As obras de renovação do torreão nascente, pretendem recuperar o caracter original da arquitectura pré-industrial, com um desenho pombalino tardio. Redesenhar o espaço, criando um palco cenográfico sem sobressaltos perfeitamente adaptado às necessidades expositivas das galerias. Revelar a magnifica estrutura de suporte da cobertura, as asnas de madeira de enorme dimensão, originais à época da construção da Real Fábrica da Cordoaria e os forros dos tetos em saia-camisa emoldurados. A estrutura de suporte da cobertura, encontrava-se por detrás dos tetos rebaixados num plano continuo, ocultando a dimensão dos madeiramentos, e a harmonia do desenho da estrutura setecentista.
O projeto de arquitetura pretendeu desmontar o caracter abstrato do espaço encerrado entre planos cegos da anterior galeria, arrancando os painéis/paredes e tetos falsos e projetando dois ambientes contrastantes nos dois pisos do torreão; o piso térreo em sombra, valorizando a bela arcaria de pedra e o piso superior na luz plena, proveniente dos altos janelões ritmados das fachadas ao redor das três salas.
Beneficiámos de um conjunto de equipas de construção especializadas e fortemente vocacionadas para o trabalho de restauro de madeiras. A conjugação das vontades encontrou também na Marinha e também no Instituto José de Figueiredo, uma colaboração exemplar que nos permitiu através de exames especializados orientar os trabalhos de identificação das madeiras e da sua origem, orientar o expurgo, e as madeiras a ser introduzidas para completar as lacunas ou as novas a ser compatibilizadas.
Foi removido o amianto que cobria todo o piso superior, executado o saneamento de todas as estruturas interiores, redesenhado o espaço com uma organização em planta livre, restauradas as carpintarias, renovadas as infraestruturas elétricas, as telecomunicações e segurança contra incêndios, no seguimento das empreitadas e trabalhos, e finalmente instalada uma plataforma elevatória de escadas tornando acessível todo a área expositiva.
Executámos o fecho e reabilitação dos forros dos tetos no piso superior; reabrimos as portas interiores da planta original, procedemos a uma reorganização funcional e minimalista da galeria com a criação de salas de reservas em ambos os pisos, a zona expectante para a Instalação sanitária e uma copa/zona de trabalho, concertada com os novos projetos de infraestruturas elétricas, telecomunicações e SCI, definindo o acolhimento, redefinindo as áreas técnicas e a ligações com o pátio, IS a uso e serventias, com a construção de paredes lineares encravadas, destacando a arcaria preexistente e potenciando articulações futuras com outros espaços expositivos da FNC e finalmente a criação de uma zona de reservas no piso superior.
Sublinhamos a diferença contrastante entre um piso fechado em sombra (Piso 00) e um piso em que a luz solar jorra através dos grandes vãos, modelando a estrutura de suporte do telhado em altura e recuperando o caracter original do torreão à época da sua edificação.
Projeto de arquitetura: Arq. Sofia Abrantes GO/EGEAC
Desenho de luz: Arq. Sofia Abrantes GO e Arq. André Maranha GM