Perpetual Motion Machine

Pedro Moreira

versao moldura negra fina

Perpetual Motion Machine apresenta o capítulo final da narrativa especulativa que descreve a vida no Domain, uma realidade virtual e terraformada criada por Pedro Moreira em 2017 e desde então activada através de diferentes momentos, disciplinas, matérias e contextos artísticos.

Neste universo ficcional, podemos acompanhar a existência, ao mesmo tempo utópica e distópica, de quatro tripplesapiens que habitam um mundo onde a morte é um processo de reaparecimento, mas também o resultado de um vínculo incorruptível de troca pela vida eterna. Personagens que desenvolvem entre si relações de tensão, conflito ou complementaridade, ao estarem intrinsecamente alinhades com uma cosmogonia definida pela ordem, caos, neutralidade e verdade.

Estabelecendo, em igual medida, uma relação com a esfera teológica e o esoterismo, este projecto inspira-se vagamente no dogma Mórmon — introduzido a Pedro Moreira desde a infância —, sugerindo igualmente analogias com textos provenientes de outras religiões, tais como o cristianismo, o judaísmo ou o hinduísmo, ou mesmo convocando aproximações à cabalística medieval e à figura do Golem, assim como a algumas das práticas místicas e ocultistas da Ordem Hermética da Aurora Dourada e a imagens provenientes do seu oráculo de Tarot. Da mesma forma, le artista explora uma ligação íntima com a literatura, nomeadamente com o conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, do escritor argentino Jorge Luis Borges, a partir do qual são apropriados os nomes para as entidades pós-humanas que habitam esta exposição.

No limbo entre as crenças do Progresso Histórico e do niilismo total, Pedro Moreira cria em Perpetual Motion Machine uma alegoria que, embora revestindo-se de uma dimensão fantástica, não deixa de ecoar certas circunstâncias associadas às ansiedades e problemas contemporâneos, procurando refletir sobre o lugar da espiritualidade no mundo actual, mas também sobre o perigo da polarização política ou a fatal ameaça do colapso e entropia.

David Revés, curador

Pedro Moreira é artista interdisciplinar de origem portuguesa cuja prática abrange a cerâmica, os media digitais e a performance. O seu trabalho conecta mundos digitais e artefactos físicos, sendo profundamente influenciade pelas tradições narrativas de jogos de fantasia e de role-playing. A exploração contínua da cerâmica enquanto reservatório e forma de storytelling reflecte um profundo interesse de Pedro em fazer interligar criação artística, práticas rituais e narrativas teológicas, ao mesmo tempo que a sua investigação se estende a domínios psicológicos e simbólicos, arquétipos colectivos e a universos literários e especulativos. O trabalho de Pedro Moreira tem sido apresentado em várias exposições, tais como Profanações na Fidelidade Arte em Lisboa e na Culturgest no Porto, Ritual Being na Ryan Lee Gallery em Nova Iorque, World Craft na Raven Row em Londres, e Significant Other 2: Oxytocin na La Casa Encendida em Madrid. Outros projectos incluem A Liberdade Ainda Não Chega no Espaço MIRA no Porto e Highly Confusing Times na Arbag em Lisboa. A presença internacional de Pedro continua a expandir-se, com exposições recentes na Monitor Gallery em Roma e na Somos em Berlim.

David Revés é curador, escritor e investigador. Vive e trabalha entre Portugal e a Suécia. É investigador de doutoramento na Universidade NOVA de Lisboa (PT) e na Universidade de Linköping (SE) e fundador do METANOIA, um projeto nómada em torno de narrativas de extinção, finitude e linguagens especulativas. David tem realizado projectos de residência, exposições individuais e colectivas em Portugal e no estrangeiro, em locais como Färgfabriken Konsthall (Estocolmo, SE); Cité des Arts (Paris, FR); Artistes en Résidence (Clermont-Ferrand, FR); Igrexa da Universidade e Fundação DIDAC (Santiago de Compostela, SP); Culturgest (Porto, PT); Alfaia (Loulé, PT); gnration (Braga, PT), CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães (Guimarães, PT), ou Fidelidade Arte, Appleton, Fundação Leal Rios, Fundação Arpad Szenes – Fundação Vieira da Silva e Carpintarias São Lázaro (todas em Lisboa, PT), entre outras. Foi co-diretor artístico e curador da Galeria Painel (Porto, PT), fellow curator na Fundação DIDAC (ES) e fez parte da equipa curatorial do CINENOVA – Festival Interuniversitário de Cinema (Lisboa, PT). Colabora com a revista Contemporânea desde 2015.

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