– 10.11.2019
14h30 – 19h
Sábado e domingo:
10h – 13h e 14h – 18h
A exposição BAD BEHAVIUOUOR [“Mau Compuourtamento”] de Adriana Proganó, na Galeria da Boavista, propõe uma imersão crítica no universo da pintura e da arte, na qual se exploram o descontrolo dos comportamentos e se valorizam os impulsos, a liberdade da acção humana, a desconstrução de cânones e da prática da arte. A artista mostra várias pinturas a óleo sobre tela, numa montagem original animada por vários elementos decorativos e cenográficos, nomeadamente uma obra-tapete e uma obra-escada que configuram a experiência do espaço e da exposição como instalação.
Nas suas pinturas, e na forma como pensa o espaço na pintura, Adriana Proganó experimenta até onde pode ir a elasticidade dos corpos e das emoções, o limite da artificialidade, quebrando, de certo modo, uma determinada sensação de tédio na produção cultural. O significado de cada uma destas obras e situações propostas, reacções a uma ideia de mundo regular, como lugar incompreensível, surge de uma ponderação aparentemente ingénua sobre vários dilemas contemporâneos, questionando os padrões, grelhas e regras a que somos subtilmente submetidos. Somos confrontados com o lado não normativo da existência, um universo onde a sexualidade e as pulsões se manifestam sem restrições. As suas pinturas são habitadas por figuras – auto-retratos? – em posições aparentemente insólitas ou pouco convencionais, muitas vezes de pernas abertas e saias levantadas, desafiando escrúpulos e pudores sociais.
Através de registos absurdos, Adriana Proganó manipula e articula constantemente estereótipos e violentos clichés que se repetem de forma mecânica e circular na sociedade, criticando o lugar do feminino e dos “bons comportamentos” que lhe estão votados: o lugar grotesco, sem significado e sem liberdade genuína em que estamos inseridos. Assim, a artista destabiliza a representação ideológica do mundo através de figurações e expressões pictóricas satíricas, fantásticas e hilariantes.
Há cerca de 100 anos, Hugo Ball, autor do manifesto Dada, de 1916, e fundador do Cabaret Voltaire, referia que “numa época como a nossa, em que as pessoas são agredidas diariamente pelas coisas mais monstruosas, sem que possam registar as suas impressões, impõe- se o caminho da produção estética. Toda a arte viva, contudo, será́ irracional, primitiva, complexa: falará uma língua secreta e deixará documentos não edificantes, mas paradoxais”.
O universo artístico e imagético de Adriana Proganó é povoado de emoções latentes e explícitas que ousam expressar e dar forma à ideia de prazer, ironia, gozo, desejo, coragem e desespero. A ambiguidade narrativa destas obras vem da vontade de explorar contradições inerentes à construção da identidade na actualidade, de fazê-lo contra a norma do “bom comportamento” e a rigidez das convenções sociais. Entre a banalidade absoluta e o “absurdo”, estas obras procuram problematizar o sentido da pequena existência, no limite do incompreensível e paradoxal, contrariando a linearidade, as instruções estabelecidas e as normas instaladas, os modos de uso, expondo a fragilidade conceptual da regra. Proganó reclama uma outra dimensão para a arte e para a existência, sem tempo e espaço definido. Nas suas pinturas podemos dizer que “tudo mexe, tudo vive, tudo se agita, tudo se atropela. Tudo se encontra. As próprias abstracções mostram- se desgrenhadas e cobertas de suor. Nada permanece imóvel. Nada se pode isolar. Tudo é actividade, actividade concentrada, forma” (Blaise Cendrars, Moravagine).
— Sara Antónia Matos e Pedro Faro, Curadores
*Por opção expressa dos autores, o texto não foi escrito segundo o Acordo Ortográfico de 1990.
– 10.11.2019
14h30 – 19h
Sábado e domingo:
10h – 13h e 14h – 18h