– 20.06.2021
Cemitério das Âncoras é um novo filme e um projeto de exposição colaborativa de Veronika Spierenburg e Nuno Barroso apresentado na Galeria Boavista, o espaço expositivo das Galerias Municipais situado no bairro lisboeta do Cais do Sodré. Junto ao rio Tejo, este bairro tem ligações históricas com o mar e com a indústria marítima, o que se reflete nas várias lojas de artigos náuticos ainda existentes.
Spierenburg e Barroso têm vindo a recolher apontamentos fílmicos que testemunham o desaparecimento da indústria da pesca artesanal em Portugal. A pesca está profundamente ligada à identidade de Portugal e representa mais do que uma atividade económica. O mar e a terra são interdependentes. A longa investigação levada a cabo pelos artistas permitiu-lhes construir relações com os homens e mulheres ligados à pesca, os quais partilham as suas histórias e os seus conhecimentos com a câmara. O ponto de partida para a investigação da dupla foi o “Cemitério das Âncoras” na praia do Barril, no Algarve, com várias centenas de pesadas âncoras que ali foram plantadas na areia e depois abandonadas. As âncoras são um testemunho da indústria pesqueira do atum, em tempos próspera, mas que durante o último século entrou em decadência devido à pesca excessiva. A abordagem experimental e documental dos artistas ao cinema espelha o legado dos etnógrafos do Centro de Estudos de Etnologia de Lisboa nas décadas de 1950, 60 e 70, cujo trabalho visava preservar e documentar técnicas e conhecimentos que se encontravam em extinção iminente.
Simultaneamente experiência contemplativa e sonora, o filme Cemitério das Âncoras entrecruza observações em diferentes locais ao longo da costa portuguesa: sítios extraordinários em que o mar determina o clima e molda a costa. A câmara observa e explora a paisagem com um olhar escultórico, captando redes e barcos de pesca, absorvendo a cor do mar e transformando os múltiplos reflexos azuis da luz em vermelho ferrugem.
Para além do novo filme, a exposição Cemitério das Âncoras reflete sobre o imaginário da pesca e do mar, apresentando artefactos e documentos visuais históricos no piso térreo da galeria. Nesta secção, apresenta-se uma seleção de obras emprestadas de museus de todo o país, incluindo fotografias de Benjamim Pereira e Artur Pastor, bem como reproduções escultóricas produzidas pelos artistas em colaboração com artesãos locais. Assim, os artistas questionam: «Como podem ler-se, nos nossos dias, os objetos históricos e as fotografias? Como é contada a história e como mostrar a efemeridade em relação com o presente?» Numa tentativa de criar uma reconstrução cultural da história da pesca artesanal, o desaparecimento e a agência de uma memória cultural e ecológica de Portugal são escrutinados simultaneamente.
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– 20.06.2021