Contra-Feitiço

Denilson Baniwa

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As Galerias Municipais inauguram na Galeria Quadrum a exposição Contra-Feitiço, de Denilson Baniwa.

Naquela que é a sua primeira exposição individual em Lisboa, o artista originário do povo Baniwa, nascido no Alto Rio Negro (Amazonas, Brasil), apresenta uma retrospectiva inédita do seu trabalho, bem como um conjunto de novas obras produzidas na capital portuguesa. Com um vasto reconhecimento internacional, o seu trabalho multiplica linguagens e cruza a pintura, a performance, o desenho e a intervenção digital para tensionar e questionar as narrativas hegemónicas sobre território e identidade, posicionando o seu direito à resposta. As criações e curadorias de Denilson convocam outras formas de relação com a terra, o tempo e o cuidado, tentando habitar o mundo a partir de uma escuta pulsante das existências subalternizadas — dos povos originários mas também de seres e lugares mais-que-humanes. Além disso, a sua identidade como artista indígena não se desprende da resistência política como um contra-feitiço coletivo.

O convite à apresentação desta exposição foi lançado pela Terra Batida, uma plataforma fundada em 2020 com coordenação de Ritó Natálio, e que tem como foco o acompanhamento situado de conflitos socioambientais e a amplificação do debate ecológico face ao entrelaçamento de visões e de responsabilidades. Ao longo dos últimos dois anos, a Terra Batida dedicou-se a pesquisar acervos de comunidades indígenas do Brasil mantidos em museus e arquivos históricos e etnográficos da cidade de Lisboa e Coimbra. Para isso, atribuiu bolsas de criação e nutriu colaborações com vozes centrais da arte e do pensamento indígena contemporâneos, tais como Brisa Flow, Ellen Pirá Wassu, Juão Nyn, Lilly Baniwa, Olinda Yawar Tupinambá e Ziel Karapotó, que visitaram presencialmente essas coleções.

Contra-feitiço de Denilson Baniwa inaugura um gesto de partilha pública de um trajeto longo de diálogos e reflexões, tendo como foco uma crítica às políticas institucionais de desaparecimento, conservação e memória que atravessam e conectam Brasil e Portugal.

A inauguração da exposição de Denilson Baniwa, no dia 22 de outubro, conta com a presença da artista Brisa Flow, que fará um show-concerto-ritual. Nesse dia, terá ainda lugar a apresentação do programa do Alkantara, festival coprodutor e parceiro regular da plataforma Terra Batida.

– Ritó Natálio / Terra Batida

Biografias

Denilson Baniwa

Denilson Baniwa é amazônida de origem na nação Baniwa. Tem como base de trabalho uma investigação sobre aparecimentos e desaparecimentos de indígenas na História Oficial do Brasil, ao mesmo tempo em que busca nas cosmologias indígenas e suas representações artísticas um possível método de compartilhar, arquivar e salvaguardar conhecimentos ancestrais. As suas criações transitam por diversos tipos de suportes, entre pintura, ilustração, performance, vídeos, fotografias, entre outros, sem abrir mão das tecnologias do Povo Baniwa. Ganhou o prêmio PIPA 2019. Como curador, assinou a série Mekukradjá (2016/2019), evento do Itaú Cultural, a exposição Reantropofagia (2019), na galeria da Universidade Federal Fluminense (UFF), e o Pavilhão do Brasil – renomeado Hãhãwpuá – na Bienal de Veneza de 2024, juntamente com Arissana Pataxó e Gustavo Caboco Wapichan. Entre as suas produções como artista, destacam-se as performances “Pajé-onça – hackeando a 33° Bienal de Artes de São Paulo” (2018), “Sawé” (2018/19) no SESC-SP, “Vaievem” (2019) no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, “Vexoá” (2020) na Pinacoteca de São Paulo, “Memórias de um Brasil Profundo” (2019) no Museu Afro Brasil. Participou, em 2019, do Arctic Amazon Symposium, no Canadá, e em 2021 na Bienal de Sidney, na Austrália, entre outros.

Ritó Natálio

Artista e investigador. Lésbica não-binárie. Os seus espaços de prática combinam a escrita e a performance, seja na criação, no ensino, na investigação ou na organização de programas públicos. Doutorou-se em Estudos Artísticos e Antropologia, com uma pesquisa sobre a relação entre linguagem e geologia, e os efeitos performativos do debate sobre o Antropoceno nas percepções humanidade-natureza. Da sua pesquisa, emerge um conjunto de palestras-performances apresentadas internacionalmente em espaços artísticos e contextos académicos: “Antropocenas” (2017) com João dos Santos Martins, “Geofagia” (2018), “Fóssil” (2020) e “Spillovers” (2023), uma tradução fabulada em torno de “Lesbian peoples: Material for a Dictionary” (1976), referência icónica do feminismo lésbico de Monique Wittig e Sande Zeig. Mestre em Psicologia Clínica (PUC-São Paulo) e graduado em Artes Coreográficas (Universidade Paris VIII), publicou artigos académicos, textos de artistas e editou publicações independentes ligadas às suas pesquisas. Em 2019, no Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa, co-organizou uma mostra de cinema indígena com cineastas e curadores indígenas, juntamente com uma plataforma coletiva de investigadores e ativistas de Portugal, nomeadamente Ailton Krenak.

Desde 2020, Ritó é coordenador da Terra Batida, uma rede de pessoas, práticas e saberes em disputa com formas de violência ecológica e políticas de abandono. Colaborou com a rede least — laboratório de artes e ecologia sediado em Genebra —, com a qual desenvolveu o projeto “Peau Pierre” (Pele Pedra), com foco em pedagogias ecoqueer em co-criação com associações locais. Coordenou dois laboratórios quadrimensais com Amador Ruiz Folini para jovens entre os 18 e 25 anos, no contexto do projeto “Imagina” do Serviço Educativo da Fundação Calouste Gulbenkian (2022-23).

É artista associado da Associação Parasita, uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Ministério da Cultura/Direção-Geral das Artes entre 2023 e 2026

Brisa Flow
Brisa de La Cordillera é uma cantora mapurbe marrona que mistura seu rap com cantos ancestrais, jazz, eletrónico e neo/soul. Mais conhecida como Brisa Flow, é artista transdisciplinar, que trabalha com linguagens musicais e atua no cenário artístico como cantora, produtora musical, performer e investigadora. Constrói arte a partir da vivência do seu corpo no mundo, criando caminhos que desprendem das amarras da colonialidade. A sua música é um encontro com as energias da Terra. Desenvolve estéticas artísticas pela prática e pesquisa do canto que tece memórias e futuros originários. Também é arte-educadora licenciada em Música. Mc da cultura hip hop e filha de artesãos araucanos, pesquisa e defende a música indígena contemporânea, a arte dos povos originários e o rap como ferramentas necessárias para combater o epistemicídio.

FICHA TÉCNICA

Uma exposição de Denilson Baniwa
Curadoria Ritó Natálio | Terra Batida
Em colaboração com Laila Algaves Nuñez e Rafaela Campos

Pesquisa curatorial: (2024) Ellen Pirá Wassu e Ritó Natálio

Diálogos em Residência: António Gouveia, Associação Batoto Yetu Portugal, Carla Coimbra, ECO – Animais e Plantas em Produções Culturais sobre a Bacia Amazónica, Jamille Dias, Karen Shiratori, Neil Safier, Museu Nacional de Etnologia, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Direção técnica: Ricardo Pimentel

Desenho Expositivo: Ricardo Pimentel, Denilson Baniwa e Ritó Natálio

Captação de imagem: Violena Ampudia

Imagens adicionais: Olinda Yawar Tupinambá, Ziel Karapotó, Jamille Dias, Laila Algaves Nuñez, Ritó Natálio
Edição Ian Capillé

Apoio gráfico: Nayara Siler

Produção executiva: Associação Parasita

Coprodução e acolhimento: Alkantara Festival, Galerias Municipais / EGEAC

Direção de produção: Catalina Lescano / Associação Parasita

Apoio administrativo: Helena Baronet / Associação Parasita

Apoio à exposição: The PIPA Foundation

Parceria: EDGES – Entangling Indigenous Knowledges in Universities

Agradecimentos: Carla Coimbra, Lysandra Domingues, Jamille Dias, Marta Lourenço

A PARASITA é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Ministério da Cultura/Direção-Geral das Artes e, desde 2024, pela Câmara Municipal de Lisboa – CML/RAAML.

Descarregue aqui a Folha de Sala para Crianças.

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Programa Público

Data
Título
Com/de
Categoria
Local
20251115
15.11.2025
Nosso Wayuri
Lilly Baniwa, Ellen Pirá Wassu & Ritó Natálio, Olinda Tupinambá & Ziel Karapotó, Juão Nyn
Performance
Galeria Quadrum
Visita Guiada à exposição “Contra-feitiço” com Interpretação em Língua Gestual Portuguesa
Interpretação em Língua Gestual Portuguesa/Visita Guiada
Galeria Quadrum