– 19.09.2021
Através de um corpo de trabalho que inclui obras recentes, apresentadas pela primeira vez em Portugal, e uma peça inédita desenvolvida especificamente para Corpos Medievais, Pedro Neves Marques traça uma narrativa simultaneamente emocional, reflexiva e especulativa sobre a genderização dos corpos e da ciência bem como sobre a construção do binário natural vs. artificial. Intersetando estratégias de autoficção com os códigos da ficção científica soft, as obras apresentadas fazem eco de um conjunto de questões centrais ao pensamento contemporâneo como reprodução e gestação queer, receios de artificialidade e fluidez entre corpos humanos e não-humanos.
Se noutras obras suas a questão ecológica é fundamental, a forma como todas estas problemáticas estão inextricavelmente enredadas umas nas outras e na forma como o capital constrói, legitima e reproduz o binário natureza vs. cultura é fundamentalmente violenta. Essa violência é transversal à obra de Neves Marques, pois é sentida diretamente nos nossos corpos, moldando-os, definindo-os, simultaneamente limitando-os e expandindo-os. É esse processo, no entanto, o que permite também a imaginação de narrativas paralelas sobre um futuro próximo, praticamente impossível de distinguir do nosso presente. Neves Marques conhece bem as possibilidades críticas e os pontos cegos da ficção científica, permitindo-lhe falar sobre afetos, biologia, reprodução, tecnologia e política de um ponto de vista tanto biográfico quanto ficcional, fazendo uma antropologia de futuros quer já aqui no presente quer ainda por vir e, nesse processo, imaginar e narrar modos divergentes de estar no mundo.
Descarregue aqui a Folha de Sala para Crianças.
– 19.09.2021