– 05.07.2020
As Galerias Municipais de Lisboa têm o prazer de apresentar Estás Vendo Coisas, a primeira exposição individual no nosso país da dupla de artistas Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, residentes no Brasil. A presente exposição convida a conhecer o seu trabalho recente com imagem em movimento através de duas vídeo-instalações, as quais envolveram a colaboração com grupos de performers e artistas de diferentes origens e exploram o modo como as expressões da cultura popular respondem às condições socioeconómicas.
Wagner & de Burca desenvolveram uma prática centrada no trabalho com grupos de artistas envolvidos em diferentes géneros de dança, música e outras formas de autoexpressão. No caso desta exposição, as obras focam-se na música brega do norte do Brasil (Estás Vendo Coisas, 16’, Brasil, 2016) e na poesia spoken word em Toronto, Canadá (RISE, 21’, Canadá/ EUA/Brasil, 2018). Em anos recentes, os artistas trabalharam igualmente com cantores evangélicos, músicos de schlager, na Alemanha, e dançarinos de frevo e swingueira, no Brasil. Focam-se na criação de obras de imagem em movimento que existem na interseção entre as belas-artes e a cultura popular, o documentário e a ficção. Em oposição à ideia de «dar voz» a um grupo particular de indivíduos, Wagner & de Burca guiam-se pelas ideias e o trabalho dos grupos com que colaboram.
O primeiro dos dois filmes, RISE, é apresentado no piso térreo da Galeria Boavista. O título faz referência ao acrónimo de «Reaching Intelligent Souls Everywhere», nome de um grupo de artistas spoken word com que Wagner & de Burca colaboraram em 2018. O filme apresenta o trabalho dos membros do R.I.S.E., e foi rodado numa nova extensão do metro de Toronto que liga as periferias ao centro da cidade. Os protagonistas do filme são canadianos de primeira e segunda geração, sobretudo de ascendência africana e caribenha, que usam o spoken word e a música para exprimir sentimentos complexos relativamente à sociedade em que habitam e ao seu lugar na mesma. Wagner & de Burca trabalharam com este grupo usando uma abordagem de colaboração e agenciamento. Os performers têm controlo total sobre a forma como são apresentados e compreendem de forma mais abrangente como o trabalho será disseminado. Captando momentos transcendentais do trabalho dos poetas, a lente de Wagner & de Burca permanece um observador, procurando compreender e questionar aquilo que regista. Através desta abordagem, o filme resultante torna-se uma obra de arte independente que, de certa forma, desafia categorizações fáceis.
No andar de cima, a obra Estás Vendo Coisas vai mais além no esbatimento da linha que separa factos e ficção. Os protagonistas (Dayana, uma bombeira, e Porck, um cabeleireiro) imaginam uma realidade alternativa através do seu trabalho como cantores de brega numa discoteca. O brega é uma forma de música popular do Nordeste brasileiro, uma fusão de hip hop americano, techno brasileiro e reggaeton caribenho. Esta obra examina o modo como a música popular se torna numa forma de trabalho alternativa e num escape relativamente às condições socioeconómicas que definem os artistas. Mais uma vez, testemunhamos um forte sentimento de controlo por parte dos protagonistas sobre como serão retratados, bem como um profundo conhecimento e compreensão de como podem apresentar a sua imagem no âmbito dos tropos da sua forma de arte específica.
A exposição Estás Vendo Coisas convida-nos a estabelecer comparações entre duas comunidades díspares em duas partes diferentes do mundo. O que une os protagonistas destes filmes é um forte desejo de crescimento e desenvolvimento no seu trabalho artístico e nas suas vidas, bem como a convicção de que, através da criatividade, podem transcender o seu meio envolvente e alcançar as suas metas. Wagner & de Burca apresentam estas colaborações como instantâneos do potencial humano que existe à nossa volta, embora muitas vezes não chegue a ser reconhecido.
– 05.07.2020