– 26.08.2012
A exposição de Fernanda Gomes (Rio de Janeiro, em 1960) no Pavilhão Branco do Museu da Cidade de Lisboa marca o seu regresso a Portugal após um intervalo de três anos. A primeira exposição da artista ocorreu em 2006 no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, e no ano de 2009 expôs na Galeria Graça Brandão, em Lisboa.
A presente exposição reativa uma prática do trabalho da artista, em que o espaço (a arquitetura, a proporção e a escala) e o lugar (o jardim, o percurso no seu interior e a localização) coincidem numa experiência de aproximação entre estas duas categorias, condição essencial que no processo de trabalho de Fernanda Gomes se traduz por uma apropriação temporária, enquanto experiência quotidiana, do espaço de exposição como extensão do seu espaço de trabalho.
O Pavilhão Branco, organizado estruturalmente em dois planos, contém determinadas características, como as grandes paredes de vidro, o chão de tom amarelo suave e as portas laterais para o jardim, que coadjuvam poderosamente a metodologia e rigor que a artista imprime ao seu trabalho. A economia da paleta cromática, de tonalidades secas, em que predominam as cores originais dos materiais e dos objetos recolhidos, tais como a madeira, o vidro, livros ou fragmentos de papel – para dar apenas alguns exemplos – e inevitavelmente a presença da cor branca, contribuem para que esta exposição permita retomar a leitura do vocabulário plástico de Fernanda Gomes, que incorpora uma aparência pobre nos materiais utilizados, mas cuja construção expositiva reafirma o valor poético e temporal da obra construída no espaço como relação com o lugar, o jardim, a cidade e o seu percurso até ao espaço expositivo.
A exposição, sem título específico, é uma convocação da transmutação dos objetos que a constroem, como se se tratasse de um mapeamento tridimensional (escultórico) cujas coordenadas desconhecemos, mas sobre as quais reorganizamos o nosso olhar e a nossa consciência do tempo. No sentido de fruir as diferenças, por vezes quase imperceptíveis, num confronto sereno, com a poderosa recontextualização do universo que o processo de trabalho de Fernanda Gomes opera.
-João Silvério
– 26.08.2012