O mar é vivo e não fala

Rui Inácio

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Frequentemente as exposições são uma oportunidade para o “valor de fazer” encontrar-se com o valor de “ver feito”. Nesse território o encontro pode ser, por vezes, tenso, por vezes, empático. Para um espectador mais afastado das problemáticas da arte contemporânea, pode não ser óbvio de que há práticas artísticas que, de forma explícita, não fazem distinções entre a cultura do espaço expositivo da cultura exterior a si. Cada vez mais encontramo-nos diante de exposições que ultrapassam as posições puramente estéticas, num recente mas dinâmico processo de desmodernização [1] do contexto museal.

Os trabalhos que se apresentam nesta exposição, cujo título se apropria de um verso popular português publicado no compêndio de João Homem Machado Folclore da Ilha do Pico (1990), constituem-se por elementos da recente investigação conceptual, técnica e formal que uma viagem à ilha do Pico, em 2016, desencadeou em Rui Inácio. São vestígios informes que conduzem-nos subliminarmente à presença das encostas vulcânicas deste lugar remoto.

Rui Inácio insiste que desenha, o que demonstra que a sua atividade artística é crescentemente conceptual — parte de um fenómeno cultural disperso, sem um estilo visual único. O Desenho é aliás, segundo o artista, o motor do seu pensamento. De certo modo os valores que Rui Inácio, de forma sistemática, vai desenvolvendo nesta série de trabalhos contêm elementos oníricos de uma paisagem em potência, a partir de uma complexa abordagem às possibilidades de representação que o conceito de Paisagem lhe sugere.

Bem-vindos.

Sofia Ponte

[1] Termo emprestado do curador escocês Charles Esche.

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Textos de
O Mar É Vivo e Não Fala
Sara Antónia Matos, Sofia Ponte