– 19.05.2013
Foi em 1938 que o MoMA (Museum of Modern Art) de Nova Iorque iniciou um programa de exposições sobre design acessível, que decorreu anualmente até 1943, no período natalício, e apresentava objetos de design “útil” por menos de $5 ou de $10 (Useful Household Objects Under $5, foi o nome da primeira mostra, em 1938, e Useful Objects in Wartime under $10, o título da última, em 1943).
Assumindo estatutariamente a função de educar o público para o conhecimento dos primeiros movimentos de vanguarda (avant-garde) e para o Movimento Moderno, e de impor um determinado gosto baseado na estética associada a estes movimentos, o Museu avança para um programa reflexo da estética associada a estes movimentos e que espelha o espírito da nova era, a união entre arte e ciência, simplicidade e funcionalismo.
A inclusão de produtos manufaturados (de design) em exposições no MoMA estabelece a possibilidade de instaurar um processo de democratização da arte numa sociedade também ela democrática. Esta tarefa educativa assumida pelas instituições (dependendo obviamente dos governos) transforma os hábitos sociais e a sua relação com a cultura (ou consumo cultural), processo que viria a fixar as bases da situação atual e, teorizada então, por Adorno, como Indústria Cultural.
O contexto social oferecia, à época, as condições ideais para a assimilação, sem precedentes, do denominado “bom gosto” que se pretendia institucionalizar. O interesse de uma indústria crescente em incrementar o consumo, oferecendo novos produtos e aplicações, prometia, a uma sociedade do pós-guerra (com aspirações para alterar os modelos sociais), melhorar os seus padrões de vida. Tudo isto proporcionou aos distintos governos, um novo modelo de atuação nas suas políticas culturais, o qual ajudou a gerar uma participação do grande público no programa dos Museus.
Esta breve contextualização serve para apresentar a investigação levada a cabo por Belén Uriel, que tomou como ponto de partida a colaboração entre a instituição cultural e a indústria, e que teve como objetivos analisar e refletir sobre os mecanismos e estratégias que o MoMA (emblema da indústria cultural) empregou, seguindo um critério apropriado do modelo industrial, para criar um contexto capaz de instaurar e legitimar a mudança de comportamento social.
A intenção da artista foi criar um conjunto de peças simbólicas, sujeitas a uma natureza cenográfica que pelas suas características formais e a relação que estabelecem entre elas, ficam dotadas de um carácter ambíguo, uma condição temporal transitória, entre uma possível situação de construção ou, pelo contrário, de desmontagem do cenário (ou situação). Fazem referência a estruturas de suporte ou fixação de (outros) elementos que estão ausentes, e que só existindo em comum (unidos/montados), definiriam a sua função. Este estado indeterminado quer acentuar o carácter e condição de fabricação/ construção de processos sociais com intenção de instaurar novos modelos de ação.
Esta exposição dá seguimento a uma linha de trabalho desenvolvida por Belén Uriel durante os últimos anos e que reflete sobre como a natureza de certas construções materiais (produtos da sociedade global - mercado), nas suas capacidades simbólicas e discursivas, permitem impor modelos ou hábitos sociais e, como a nossa “resistência” às mesmas, deriva de uma constante aspiração e necessidade de as redefinir.
– 19.05.2013