– 25.08.2019
As Galerias Municipais apresentam Sem pressa de chegar, exposição individual de Sara Chang Yan, com curadoria de Sara Antónia Matos e Pedro Faro, na Galeria da Boavista. O título “Sem pressa de chegar” é uma frase retirada de um trabalho de som que Sara Chang Yan apresenta nesta exposição e serve como mote para pensar a forma como a artista tem trabalhado o espaço e o tempo do desenho nas práticas artísticas contemporâneas. O seu trabalho põe em relevo a disponibilidade para fazer e ver o que cada traço, incisão, marca, reflexo, pode conter. Daí poder-se dizer que o seu trabalho e modus operandi envolvem um modo de desaceleração em relação à realidade. Sem pressa de chegar a nada definitivo?
Trabalhando o desenho em diferentes suportes – papel, vídeo, som, sobre a parede, no espaço e através dele, muitas vezes adquirindo a forma de instalações – a artista explora modalidades de registo e de presença de aspectos muito subtis como a luz, a sombra, a transparência ou a opacidade, a intensidade das coisas e não tanto as coisas em si. Poderão as suas obras ser pensadas como equações energéticas do espaço?
Podemos dizer que Sara Chang Yan desenha mais o espaço do que os objectos. Segundo a artista: “Quando olho para o mundo, acho que não chega, tem que haver mais do que isto. Interessa-me um gesto que é qualitativo.” As obras propõem assim capturar a qualidade interna que as move, que as faz viver. “Parece-me que a vida acontece em estados que não são visíveis nem materiais”. A artista interroga sobre como o estado interno de cada um pode mudar a realidade. Com uma preocupação ontológica, os seus desenhos procuram entender ou dar forma ao complexo estrutura-movimento-vibração, muitas vezes invisível, equacionando estados e termos como: intuição, intenção, vazio, consciência, evidência, ser.
Cada obra de Sara Chang Yan forma-se a partir do que fica entre o visível e invisível, o material e o imaterial, o tangível e o infinito. Cada desenho gera evidências e momentos de consciência não tanto sobre a figura de objectos ou sobre a sua representação mas sobre as suas qualidades, propriedades internas, movimentos e vibrações que antecedem a forma. Será que o assunto que lhe interessa é anterior ao pensamento?
No desenho de Sara Chang Yan surgiram, a partir de certa altura, uma diversidade de gestos sobre o papel: cortes, relevos, camadas densas e translúcidas. O desenho saiu da folha de papel, da parede e colocou-se no espaço – como que adquirindo a qualidade de uma equação energética, assim testando a resistência do espectador face à sua quase imaterialidade – ao seu quase nada, quase inexistência – e ao abrandamento que o desenho impõe.
Sara Antónia Matos e Pedro Faro
– 25.08.2019