– 20.01.2016
Decorridos cinco anos sobre a morte de Ruy Duarte de Carvalho, um dos maiores escritores de língua portuguesa, o ciclo Paisagens Efémeras (título do projeto inacabado do autor) apresenta uma exposição e colóquio em Lisboa.
A partir do espólio de Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010), seguimos o percurso que emerge da diversidade dos seus materiais e processos criativos. Um vasto percurso: da África Austral ao Brasil, do pós-independência de Angola ao exílio interior, do deserto ao mar, das obstinações às hesitações, da família à exigente solidão, da longa guerra à análise das suas implicações, da minudência dos diários de campo ao jogo de espelho entre observador e observado. Seguimos, perplexas, as pistas da sua pesquisa, metódica e multiplicadora de sentidos.
Deixámo-nos encantar pelos bastidores das suas obras nos quais, através das planificações iniciais, temporárias e finais, assistimos às ideias a nascer, a crescer e a transformar-se. Interessámo-nos também pelos efeitos da passagem do tempo, incorporando acasos de uma vida inteira: ideias inacabadas, materiais que o tempo alterou, fotogramas que ganharam riscos, papel que o bicho comeu. Esses detalhes adicionados pelo tempo recordam-nos que a obra, inacabada, abandonada ou publicada, tanto pode ser refeita como pode ser princípio para outros fins.
A exposição conta ainda com contribuições dos artistas António Ole, Délio Jasse, Kiluanji Kia Henda e Mónica de Miranda, entre outros, convidados a dialogar com o imaginário da obra de Ruy Duarte de Carvalho. Propõem-se assim novas possibilidades de leitura a partir de um diálogo, nomeadamente intergeracional, com outras práticas artísticas. Este encontro toma forma curatorial num momento que, embora já não sendo o de Ruy Duarte, é insistentemente interpelado pela sua obra.
-Ana Balona de Oliveira, Inês Ponte e Marta Lança, curadoras
– 20.01.2016