Concerto Igor Stravinsky, Jorge Peixinho e Luís Antunes Pena

Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Nuno Aroso, Pedro Junqueira Maia

Por ocasião da 4ª edição da ARCOLisboa 2019 – Programa VIP e no âmbito da exposição Stefano Serafin: Arte em Estado de Guerra as Galerias Municipais organizaram um concerto de Grupo de Música Contemporânea de Lisboa com Nuno Aroso (percussão) e Pedro Junqueira Maia (coordenação, direcção).

Grupo de Música Contemporânea de Lisboa com
Nuno Aroso (percussão)
Pedro Junqueira Maia (coordenação, direcção)

PROGRAMA

IGOR STRAVINSKY [1882-1972]
Suite da ‘História do Soldado’ (1918) para clarinete, violino e piano
Intérpretes: Grupo de Música Contemporânea de Lisboa

Escrita em 1918, ano em que Stravinsky, à altura com problemas orçamentais, se junta a Charles-Ferdinand Ramuz para criar uma exibição cénico-musical, que pudesse ser montado com poucos recursos. “A História do Soldado” trata a história de um soldado russo que, quando volta da guerra (a Rússia retirou-se da I guerra mundial em 1917, na sequência da revolução), pára para tocar o seu violino e cruza-se com o Diabo que se propõe a comprar um violino (a alma do soldado) em troca de um livro mágico que prevê o futuro. A obra foi estreada no mesmo ano da sua composição, mas uma digressão planeada para se seguir à estreia não chegou a concretizar-se, devido a uma epidemia de cólera. As dificuldades várias que se sentiam em apresentar música em tempos de guerra, levaram o próprio Stravinsky a reescrever esse material a partir de uma “redução” instrumental desse original, concebendo assim uma suite para clarinete, violino e piano, que se tornou bastante popular com os tempos.

JORGE PEIXINHO [1940-1995]
Ciclo-Valsa (1982) para soprano, clarinete, violino, piano, velofone e caixa de música
Intérpretes: Grupo de Música Contemporânea de Lisboa

Parte do díptico “Two Minimal Pieces”, “Ciclo-Valsa” foi escrita para uma estrutura instrumental variável, velofone (uma roda de bicicleta) e caixas de música. Obra apoia-se num procedimento experimental, que sempre foi apanágio da escrita de Jorge Peixinho, na procura da renovação da sua linguagem. Nas palavras do próprio Jorge Peixinho, “cada instrumento toca um número variável de fragmentos musicais, aleatoriamente organizados por ciclos de duração diferente. […] uma obra aleatória assente numa estrutura métrica incessantemente ternária (como convém a uma valsa que se preza), sobre a qual se vão sucedendo, sobrepondo e desenvolvendo vários elementos melódicos com características tipológicas distintas. […] O perfil global da obra assenta numa estrutura policíclica na qual os ciclos individuais de cada instrumento são sempre permutáveis entre si e não-coincidentes com os demais”.

LUÍS ANTUNES PENA [n. 1973]
Três Quadros Sobre Pedra (2008)para barras de granito, percussão e electrónica
Intérprete: Nuno Aroso (percussão)

Criada em colaboração com o percussionista Nuno Aroso, parte de uma ideia inicial de trabalhar com objectos sonoros (instrumentos) que não se inserem na família de percussão comum – pedras de diferentes tipos, tamanhos e texturas –, e desenvolve-se consequentemente na procura das suas sonoridades características, possibilidades rítmicas/métricas e estruturas musicais que se associassem a esses instrumentos específicos. A ideia socorreu-se inicialmente de improvisações várias até a versão final escrita e definitiva – uma minuciosamente elaboração, solidamente arquitectada.

Biografias Compositores:

Ígor Stravinsky (Oranienbaum/Rússia, 1882-Nova Iorque, 1971), foi compositor, pianista e maestro, considerado hoje um dos mais importantes criadores musicais não só do século XX, mas de todos os tempos. Possuidor de uma carreira que prima pela diversidade estilística, é reconhecido, também, pelo magno labor que desenvolveu com os Ballets Russes, de Diaghilev. Um desses trabalhos – “A Sagração da Primavera” (1913) –, cuja estreia provocou avultados e dispares ânimos, é hoje reconhecido como uma das maiores obras de todos os tempos, vindo a marcar, indelevelmente, todo o pensamento estrutural rítmico dos compositores ulteriores.

Jorge Peixinho (Montijo 1949 – Lisboa 1995), é dos mais notáveis compositores da sua geração, iniciou a sua formação no Conservatório Nacional de Lisboa, que prosseguiu em Roma, onde aprofundou os seus conhecimentos com Boris Porena e Goffredo Petrassi. Momento marcante na viragem estética da sua produção musical, permitiu-lhe tomar contacto com obras dos compositores da 2.ª Escola de Viena, assim como com o trabalho de Stravinsky. Contactou de perto com as principais correntes da vanguarda, nomeadamente através de Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen nos Meisterkurse na Academia de Basileia, de Luigi Nono em Veneza, e da participação nos cursos de Darmstadt. A sua actividade alargou-se ao papel de crítico, divulgador musical e intérprete. Como compositor, granjeou diversos prémios que lhe valeram o reconhecimento nacional, tendo ainda divulgado a música contemporânea na Europa e América do Sul com o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que fundou em 1970.

Luís Antunes Pena (Lisboa, 1973), é formado em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, prosseguiu os seus estudos na Folkwang-Hochschule Essen, na Alemanha. Aqui radicado desde 1999, a sua produção abrange os géneros da música de câmara e solista, com ou sem eletrónica, bem como a música acusmática e cénica. As suas obras têm sido encomendadas por instituições como a Fundação Gulbenkian, o ZKM | Karlsruhe, a Philharmonie Essen, a Deutscher Musikrat, a Deutschlandfunk, o Ministério dos Negócios Estrangeiros Alemão, o Kasseler Musiktage, a Miso Music, a Christoph Delz Foundation, a Kunst-Station Sankt Peter Köln, ou a Kulturstiftung Cottbus. O seu trabalho foi selecionado para fazer parte da série de CDs autobiográficos de compositores da actualidade, uma coleção editora Wergo produzida pelo Conselho Alemãoda Música (Deutscher Musikrat). É editado por sumtone.

Biografias Intérpretes:

Grupo de Música Contemporânea de Lisboa
Fundado na Primavera de 1970 por Jorge Peixinho, com colaboração de Clotilde Rosa, Carlos Franco e António Oliveira e Silva, estreou-se no Festival de Sintra desse mesmo ano. Desde então mantém uma constante regularidade nas suas apresentações. Em 1972 teve a sua primeira deslocação ao Estrangeiro, participando no Festival de Arte Contemporânea de Royan. Colaborou praticamente em todas as edições dos renomados Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea, levando ao palco tanto as últimas criações de compositores nacionais como obras de compositores das mais diversas latitudes, de acordo com os projetos específicos de cada concerto. Ao longo dos seus mais de 40 anos de existência, efetuou apresentações em numerosos países, marcando presença em inúmeros Festivais de Música Contemporânea por todo o mundo. As suas gravações, editadas hoje pela editora catalã La Mà de Guido, receberam o aplauso da crítica especializada portuguesa e internacional.

Nuno Aroso [percussão]
Um dos mais ativos solistas de música contemporânea na atualidade, desenvolve a sua carreira focada na investigação com compositores e no fomento da literatura para percussão. Licenciado pela ESMAE com a classificação máxima, prosseguiu estudos em Estrasburgo e Paris. Tocou em estreia absoluta mais de 120 obras e gravou parte deste repertório em inúmeras edições discográficas. Tem-se apresentado como professor, membro de júri e intérprete em Portugal, França, Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália, Eslovénia, Brasil, China, Ucrânia, Tailândia, África do Sul, Argentina, Grécia, Suécia, Inglaterra, Canadá, Bulgária, Tunísia, Escócia, Coreia do Sul, Japão e Chile. Doutorou-se com a tese The Gesture´s Narrative – contemporary music for percussion. Leciona no Departamento de Música da Universidade do Minho, estendendo a sua atividade docente a outras prestigiadas universidades, conservatórios e festivais de música, um pouco por todo o mundo, promovendo a realização de masterclasses, comunicações, conferências e seminários. Nuno Aroso é artista Adams, artista Zildjian e toca com baquetas Elite Mallets.

Pedro Junqueira Maia [coordenação/direção]
Compositor, formou-se pelas Escolas Superiores de Música do Porto e de Lisboa. O seu trabalho tem sido apresentado por todo o País e no estrangeiro (África do Sul, Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, Canadá, Espanha, EUA, França, Grécia, Inglaterra, Itália, México). Paralelamente fundou o Atelier de Composição, com o qual edita livros, partituras, registos áudio e vídeos, bem como organiza concertos, conferências, exposições e encontros vários com os compositores portugueses contemporâneos. Foi diretor artístico do “Memorando Lopes-Graça” (1.º lugar IA/MC, 2006), co-diretor dos “Reencontros de Música Contemporânea/Aveiro 2017” (apoio DGArtes), co-curador da exposição “Musonautas, Visões e Avarias 1960-2010 – 5 Décadas de Inquietação Musical no Porto” (2018). É doutorando em Música – Universidade Católica, Porto (bolseiro FCT). Professor de Análise Musical na Universidade do Minho, Braga.

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Exposição

Data
Título
Artistas
Curadoria
Galeria
08.03.2019
– 26.05.2019
Stefano Serafin: Arte em Estado de Guerra
Stefano Serafin
Paula Parente Pinto
Galeria Avenida da Índia