Criado por Mattin para as Galerias Municipais, a quarta interação de Expanding Concert (Lisboa 2019 – 2023) contará com um concerto de Mattin, Margarida Garcia, DJ Marfox e Vuduvum Vadavã no dia 2 de julho, na Galeria Quadrum. A resposta em forma de texto será dada por Dasha Birukova.
Expanding Concert (Lisboa 2019 – 2023)
Expanding Concert (Lisboa 2019-2023) é um concerto de quatro anos distribuído no tempo e no espaço através de diferentes meios: 5 intervenções públicas em 5 Galerias Municipais diferentes em Lisboa e resultando em 5 textos. Este concerto explorará a noção de chamada e resposta na improvisação de forma expandida: cada intervenção pública é uma forma de chamada. Como resposta, um escritor será convidado a participar da intervenção e a escrever um texto sobre ela depois. Essas respostas tentarão contextualizar a intervenção em relação à situação artística, política e econômica de Lisboa na época. Expanding Concert será um longo concerto improvisado, e uma tentativa de pensar historicamente enquanto está acontecendo.
“Mattin recorre igualmente a uma estratégia invertida que acaba por produzir som formulado pelo público impaciente, um som eventualmente elaborado como um discurso, um ruído muitas vezes proferido como declamações caóticas. (…) Com Mattin são os corpos presentes que se tornam na matéria musical de um canto dedicado ao contexto geográfico e político em que o concerto, no sentido de um acordo harmónico de instrumentos, emerge.” Este trecho faz parte de um texto de Pierre Bal-Blanc que responde a terceira edição de Expanding Concert (Lisboa 2019 – 2023) no ano passado. O que mudou desde então nas nossas vidas? Como estamos a avançar nesta era conturbada? A quarta edição do Expanding Concert convida-o a colocar as questões connosco e a fazer ressoar as ideias dentro da galeria.
Mattin é um artista de Bilbau – que vive em Berlim – e trabalha com música noise e improvisação. Utilizando uma abordagem conceptual, ele pretende questionar a natureza e os parâmetros da improvisação, e especificamente a relação entre a ideia de ”liberdade” e a constante inovação que esta implica tradicionalmente, assim como as convenções estabelecidas da improvisação como género artístico. Mattin considera a improvisação não apenas como uma interação entre artistas e instrumentos, mas também como uma situação que envolve todos os elementos que constituem uma apresentação pública, incluindo o público e o espaço social e arquitetónico. Mattin concluiu recentemente o doutoramento na Universidade do País Basco, sob a supervisão de Ray Brassier e Josu Rekalde. Juntamente com Anthony Iles, coeditou o livro Noise & Capitalism em 2009. Em 2012, o CAC Brétigny e a Tuamaturgia publicaram Unconstituted Praxis, um livro que compila os seus textos, entrevistas e resenhas de performances nas quais participou. Ambos os livros estão disponíveis online. A sua monografia “Social Dissonance” foi publicada pela Urbanomic em 2022. Mattin participou da documenta14 em Atenas e Kassel em 2017.
Margarida Garcia (Lisboa, 1977) tem vindo a desenvolver desde meados dos anos noventa uma linguagem muito pessoal e distinta para o contrabaixo eléctrico. Ela vai muito além da práxis de improvisação contemporânea com uma ligação profunda para o underground psicadélico contemporâneo. Antes de mudar para Nova Iorque em 2004, onde viveu durante sete anos e foi encontrada a tocar regularmente em concertos com Loren Connors e Marcia Bassett, era uma figura muito presente no som underground de Lisboa. Ali conheceu o guitarrista Manuel Mota, colaborador próximo desde o seu início musical. A primeira publicação conjunta remonta a 1998. As suas explorações no espaço do arco, na sua maioria escuramente dramático, em território profundamente lamacento e silencioso, foram também encontradas em colaborações com Thurston Moore, David Maranha, Gabriel Ferrandini, Filipe Felizardo, Barry Weisblat e Nöel Akchoté, entre outros. Desde 2014 vive entre Lisboa e Antuérpia, onde trabalha frequentemente com a Graindelavoix (Björn Schmelzer) nos seus vários empreendimentos artísticos. A colaboração com Mattin começou em 2003 com a sua dupla “for permitted consumption”, e estendeu-se a várias performances ao vivo e publicações incluindo Kevin Failure, Loy Fankbonner, Billy Bao, Tim Barnes, Eddie Prévost, Rhodri Davies, Mark Wastell, Emma Heditch e o artista de Fluxus Jeff Perkins.
DJ Marfox é uma autêntica lenda urbana, suburbana e do gueto lisboeta. Foi um dos edificadores da Príncipe e continua sendo dos seus mais brilhantes embaixadores. A sua inigualável visão de techno barroco e ritmicamente expansivo, imbuído de Garage, Bass e Batida, tem cativado público e crítica com títulos em selos discográficos como a Boomkat Records, Enchufada, Lit City Trax e Warp Records. Olhando para trás neste virar de década, para além da Viagem contínua a tocar pelo globo, destacam-se o currículo impressionante de remisturas (tUnE-yArDs, Capicua, Panda Bear, Elza Soares, Fever Ray, entre outros), a encomenda de música original para a instalação da artista Natascha Sadr Haghighian no Pavilhão Alemão na Bienal de Veneza 2019, ou as distinções de vários quadrantes da cultura de música de dança para este pioneiro produtor e DJ Português com raízes São Tomenses.
Vuduvum Vadavã nasceu no Porto, vive em Lisboa, e é Marta, metade da dupla Von Calhau!
A sua paixão reside no absurdo, no estado selvagem e primitivo da linguagem, do pré-verbal ao palíndromo e outros jogos de palavra rebuscados. Essa investigação incide sobre a relação dos contrários, que podem ser complementares ou repelentes na sua combinação. Nas artes visuais e não visuais, canto/voz, performance, circuit-bending ou como DJ, experimenta o ruído e o silêncio numa deriva conduzida pelo desconhecido.