Under the Ground

Basim Magdy; Karrabing Film Collective; Louis Henderson

under the ground newsletter dez

Formulado no século XVIII por James Hutton, o conceito “deep time” definiu que a temporalidade da terra era configurada como um ciclo dinâmico de fluxos estratificados em várias temporalidades. As escavações ao interior da terra constituem assim uma espécie de viagem temporal ao passado, mas também uma forma de previsão das alterações futuras do planeta. Estas escalas geológicas tornaram-se portanto essenciais no entendimento de conceitos que referem um período terrestre em que as actividades humanas têm um impacto global no funcionamento dos ecossistemas do planeta: em que o tempo profundo geológico é corrompido pelo tempo da conveniência humana. Neste contexto, Jean-Luc Nancy afirmou que hoje se vive um processo de “suplementação” e “suplantação”: a tecnologia integra matéria-prima da natureza nos seus dispositivos, ao mesmo tempo que essa mesma tecnologia transforma e esgota os recursos naturais para os seus próprios fins. Desta forma, a matéria geológica tornou-se pertinente para compreender a nossa circunstância tecnológica, mas sobretudo para visibilizar determinados custos laborais, sociais e ecológicos implícitos nestas práticas pretensamente virtuais e imateriais.

“Under the Ground” propõe apresentar um conjunto de obras de diferentes temporalidades, imagéticas e geografias – que vão do Gana, às ilhas do Pacifico, à Grécia, ao Japão, à Antártica, à América do Norte ou ao deserto do Saara – e que procuram revelar questões centrais para uma compreensão alargada sobre a temporalidade profunda da terra, e a sua relação crítica com os tempos contemporâneos da economia e da tecnologia. A primeira sessão apresenta um conjunto de filmes que reflectem sobre a ligação entre a história do planeta e a história criada pela humanidade, tratando temas como a materialidade da tecnologia, a ecologia, a mineralogia ou o espiritismo indígena. A segunda sessão apresenta um conjunto de filmes que convocam uma dimensão distópica sobre as consequências da exploração da terra, projectando uma temporalidade futura e apocalíptica – seja através de perspectivas ligadas ao eco-feminismo e à mão-de-obra feminina, à transformação corporal e paisagística, ou, ao ponto de vista das cosmologias indígenas. A terceira sessão propõe um conjunto de filmes que trabalham sobre tensões telúricas, ancestrais e sensoriais, dialogando o tempo profundo geológico da Terra com as capacidades técnicas do filme.

SESSÃO 4

Lettres du Voyant (2013, 40’)
Louis Henderson (UK)

The Mermaids, or Aiden in Wonderland (2018, 26’29’’)
Karrabing Film Collective (AUS)

No Shooting Stars (2016, 14’25’’)
Basim Magdy (EGY)

ler mais
ler menos