“verdes anos”

A Câmara é o Corpo

poster Ana Vaz scaled
1/9

A Câmara é o Corpo de Ana Vaz conduziu à criação do filme 13 Ways of Looking at a Blackbird realizado com os alunos dos Clubes de Robótica e ArtMedia, que decorreu em parceria com a Escola Secundária Dom Dinis.

A Câmara é o Corpo, segundo a antropologia dos povos amazónicos, os seres nas suas formas as mais múltiplas — humanos, plantas, chuvas, trovões, objetos ou minerais — possuem caraterísticas próprias e formas de ver e serem vistos, que variam de acordo com a sua cadeia de relações. O humano é mais um dos membros de uma teia de relações e não o ponto de vista privilegiado sobre os outros seres. Nesse sentido, ser humano é existir em relação a algo, a alguém que vê e que é visto por mim. As cosmovisões Amazónicas ensinam-nos, ou melhor, relembram-nos que toda a perspectiva é parcial e situada; existe sempre numa cadeia de interdependências entre seres. Nesse sentido, toda a perspectiva se faz a partir de um corpo: ver é estar nalgum lugar; observar é sempre interpretar a partir de um território ou situação.

A câmara é o corpo será um projeto colaborativo que visa questionar a centralidade da visão humana — sentido privilegiado da nossa aparelhagem sensível — através de experiências sensoriais e críticas que incitem e trabalhem os nossos múltiplos sentidos: tato, audição, intuição, outras formas de ver, ouvir, guiar e ser guiado. E, afinando outros sentidos e formas de estar, questionar as relações entre humanidade e “natureza”, corpos e situações, percepção e espaço, através de dispositivos cinematográficos experimentais. Nesse sentido, aqui o cinema não é uma forma a ser reproduzida, mas a ser (re)inventada. O que vemos? Quem vê? O que se vê? Com quem vemos? Que outras potências sensíveis queremos cultivar para além da visão? A câmara é o corpo acompanhará, durante um ano letivo, um grupo de aluno(a)s através de projeções de cinema, debates, formas de interpretação livre, atividades sensoriais e a fabricação de uma obra coletiva, onde se buscará incitar experimentações para um cinema onde uma ecologia de sentidos, formas e mundos, possam desafiar estruturas de poder, modelos normativos e hierarquias panópticas.

«Tomando de empréstimo o título do poema de Wallace Stevens “13 maneiras de olhar para um melro “, o filme é composto por uma série de tentativas de olhar e ser olhado (…) tornou-se um caleidoscópio de experiências, perguntas e maravilhas de um par de estudantes do ensino secundário (Vera Amaral e Mário Neto) após um ano pandémico de experiências com a cineasta Ana Vaz, questionando o que o cinema pode ser. Aqui a câmera torna-se um instrumento de investigação, um lápis, uma canção. “O filme é uma música que você vê”, escreveu um dos alunos numa constelação coletiva de frases e desenhos feitos durante uma das oficinas. A frase é uma descrição perfeita de um filme que explora uma ecologia nascente dos sentidos.» – Monica Delgado

Como se faz um filme? Pode o cinema ser uma forma de amizade? E de pedagogia? Como resposta a estas (e outras) perguntas, Ana Vaz e os alunos que com ela trabalharam ao longo de um ano pandémico oferecem-nos uma constelação de apontamentos e interrogações. 13 Ways of Looking at a Blackbird é um filme coletivo sobre como fazer cinema de mãos dadas.

O filme foi selecionado e exibido na Secção Forum Expanded da Berlinale 2021.

Ana Vaz (1986, Brasília) é uma artista e cineasta cujos filmes e seus múltiplos desdobramentos procuram aprofundar as relações entre percepção e linguagem a partir de uma cosmologia de perspectivas. Os seus filmes são mostrados internacionalmente em festivais e instituições culturais tais como Tate Modern, New York Film Festival, LUX Moving Images, MAAT, Fundação Gulbenkian, Cinéma du Réel, Palais de Tokyo, Jeu de Paume, entre outros.