Esta publicação surge no seguimento da exposição Lisboa: Centro da Europa na II Guerra Mundial – 1939-1945, comissariada por Emma Lochery, que decorreu no Torreão Poente da Praça do Comércio entre setembro e novembro de 2012. Com textos de António Costa e Neill Lochery, reproduz cerca de 80 documentos, predominantemente fotográficos, de arquivos nacionais e internacionais, que registam o quotidiano da cidade de Lisboa durante a II Guerra Mundial. A exposição surgiu no seguimento da edição em português do livro Lisboa: A guerra nas sombras da cidade da luz, 1939-1945, de Neill Lochery (Editorial Presença, Lisboa, 2012).
“O retrato dessa Lisboa como se se tratasse de um jogo de espelhos. Pensar no que foi Lisboa durante a II Guerra Mundial é encontrar, irremediavelmente, uma série de paradoxos. Por um lado, a Ditadura do Estado Novo e o regime repressivo, num país isolado, agarrado a um passado colonialista que teimava em não abandonar, e até busca glorificar na Exposição do Mundo Português de 1940. Um Portugal ainda dominado por um ruralismo que afastava o país do seu tempo. Por outro, a “neutralidade” de Salazar, sempre receoso de entrar na Guerra que dividiu a Europa, permitiu a existência de movimentações agitadas e mais ou menos subterrâneas da parte quer dos Aliados quer do Eixo, caracterizadas por esquemas de espionagem e contraespionagem a que o Regime dava o beneplácito, procurando sair favorecido da melhor forma.”
-António Costa
“No final do filme Casablanca, quando Rick Blaine (Humphrey Bogard) e o capitão Louis Renault (Claude Rains) partem para dar início à sua «bela amizade» ao juntarem-se à Guarnição dos Francees Livres em Brazzaville, o avião que transporta Victor Laszlo (Paul Heinreid) e Ilsa Lund (Ingrid Bergman) levanta voo no meio do nevoeiro. Partem para a Lisboa «neutra», munidos já das respetivas cartas de trânsito. Na vida real, a cidade de Lisboa durante a II Guerra Mundial mais do que se parecia com o cenário do filme: para muitas pessoas que trabalhavam na cidade durante as fases finais da guerra, Lisboa tornou-se afetuosamente conhecida como «Casablanca II». A versão real possuía todos os ingredientes de uma intriga ficcional: romances despedaçados, refugiados desesperados a tentarem obter os documentos necessários e a venderem as joias da família para financiarem as suas passagens para outros lugares; um próspero mercado negro em que a procura ditava uma queda para níveis históricos dos preços dos diamantes e de outras pedras preciosas raras; cafés e hotéis cheios de refugiados e espiões espalhados pelo centro da cidade e ao longo das estâncias turísticas costeiras de Lisboa.”
-Neill Lochery