Catálogo que documenta a exposição Flamboyanzinho, Flor-de-pavão, Flamboyant-mirim, Barba-de-barata, com a curadoria de Julia Coelho e Renan Araujo, que esteve patente na Galeria da Boavista entre 6 de novembro de 2021 e 30 de janeiro de 2022. Para além da documentação fotográfica das obras expostas, contém textos de Djaimilia Pereira de Almeida, Julia Coelho, Renan Araujo, Thiago Gonçalves e Tobi Maier.
“A água a correr cantava suave sem se meter na vida dos melros e das abelhas. O sol, ao alto, convidava a um enterro. Se calhar, ali, à sombra do pinheiro gigante, morreria bem. Era ali que, tivesse ele uma enxada, cavaria a sua cova. Mas nem os pássaros, nem as nuvens, nem as pedras quiseram saber das suas aflições.”
-Djaimilia Pereira de Almeida
“Seguindo esse raciocínio, todas as obras nessa exposição estão carregadas de forças transcendentais e juntas apresentam uma forte constelação que alude ao agenciamento de plantas e sítios sagrados.”
-Tobi Maier
“Quando os colonizadores europeus chegaram no Caribe no fim do século XV, os índios Tainos tinham na mandioca o seu principal cultivo, eles conheciam o poder de suas raízes e folhas, sabiam que propriedades podiam nutrir ou matar. Muitas vezes o cativeiro em que eram colocados pelos colonizadores era pior do que a própria morte. Então como forma de resistência, eles ingeriam a raiz crua da mandioca sabendo que assim morreriam intoxicados pelo ácido cianídrico e livrar-se-iam da tortura e da exploração.”
-Thiago Gonçalves
“As propriedades venenosas, curativas e performativas da Flor-de-pavão, assim como de outras espécies vegetais migrantes, exerceram um papel ativo nas dinâmicas políticas e sociais do sistema colonial escravista cujas reverberações ainda podemos sentir. Dentro da exposição, tais propriedades nos auxiliarão, junto às obras e artefactos reunidos, a refletir sobre trânsitos, sejam eles oceânicos, psíquicos, metabólicos, subterrâneos, hormonais, poéticos ou culturais.”
-Julia Coelho e Renan Araujo