Publicação que acompanha a exposição Inquietação. Arquitetura e Energia em Portugal, com a curadoria de common room, patente na Galeria Avenida da Índia entre 17 de novembro de 2022 e 12 de fevereiro de 2023. Contém textos de Tobi Maier, Lucinda Correia, Nuno Pinto & Iain Deas, Maria João Soares & João Miguel Duarte, ateliermob & Ana Catarino, e Lars Fischer & Kim Förster.
“Determinar o foco da pesquisa sobre o tema da arquitetura e energia foi oportuno porque em 2020 a cidade de Lisboa seria designada Capital Verde Europeia. Encontramo-nos no meio de uma emergência climática e muitos dos danos causados ao planeta são já irreversíveis. A busca por combustíveis não-fósseis e fontes de energia é essencial para a vida neste planeta, e dentro de um contexto local vem na pegada de décadas de uma exploração petrolífera, que também modelou Portugal, a sua população e paisagem institucional, bem como a sua arquitetura.”
-Tobi Maier
“Já percebemos que não será apenas com a regulamentação e a padronização resultantes da aplicação de acordos internacionais que resolveremos os atuais desafios ambientes: o seu compromisso com modelos de desenvolvimento que preconizam a transformação de matérias-primas numa escala planetária e a utilização de fontes de energia sem se considerarem os seus impactos no ambiente, torna quase ociosa a produção e a aplicação de sucessivas leis, programas, normas e protocolos. Porém, todos estes discursos oficiais produzidos ao longo destes anos dão conta da narrativa humana face ao ambiente, à energia e aos recursos naturais.”
-Lucinda Correia
“Pode dizer-se que as paisagens são um palimpsesto da intervenção humana através dos tempos, e o advento de uma barragem hidroelétrica representa meramente outra camada na história da paisagem. Mas também se pode dizer que uma barragem aniquila as camadas pré-existentes.”
-Nuno Pinto & Iain Deas
“Contaminações horizontais Contaminações verticais. Contaminações que vão vibrando de século em século; envoltas pelas matérias lodentas, envoltas pelo, ainda, clima de guerra, envoltas por um início de século ameaçado pela incúria humana. Contaminações que vão abrindo caminho através das dobras da matéria da terra – novamente, da interioridade para a exterioridade.”
-Maria João Soares & João Miguel Duarte
“A luta pelo acesso a um contrato formal de fornecimento de luz elétrica, para um bairro precário/ilegal, significou a transmutação de um bem essencial para uma discussão alargada, como é o espaço da política. O acesso à eletricidade transformou-se num objecto político do discurso sobre o espaço urbano, sobre quem lhe dá forma e quais as tensões que se manifestam nesse mesmo espaço.”
-ateliermob & Ana Catarino
“A transição energética deve questionar e substituir os sistemas energéticos existentes, de construção e de vivência juntos, de criação de valor, de doação de sentido, e de governação de pessoas e de terra. Trata-se de desafiar as formas como os combustíveis fósseis se estão a materializar e são mediados através da cultura, que é a raiz do aquecimento global e a razão para o impacto ambiental continuado a que assistimos.”
-Lars Fischer & Kim Förster