Africa See You See Me – Influências Africanas na Fotografia Contemporânea

Esta publicação surge no seguimento da exposição Africa: See You, See Me!, com curadoria de Awam Amkpa, que decorreu no Pavilhão Preto do Museu da Cidade entre 1 de outubro e 19 de dezembro de 2010, inserida no programa do AFRICA.CONT. Para além de documentação fotográfica das obras apresentadas, contém ainda textos de António Costa, José António Fernando Dias, Awam Amkpa, Manthia Diawara, Alessandra Di Maio, Ulrich Baer, uma entrevista a Seydou Keïta por Lydie Diakhaté e a transcrição de um debate no contexto da exposição com o tema: “A Influência da Autorrepresentação dos Africanos e da Diáspora nas Formas Contemporâneas como a África é Fotografada”, com a participação de José António Fernando Dias, Awam Amkpa, Emília Tavares, Jahman Anikulapo, Nuno Porto, George Osodi, Okwui Enwezor e Marco Ambrosi.

“Em nenhum campo como o da fotografia o conflito de poder entre sujeito e objeto, entre fotógrafo e fotografado no caso, é mais evidente. Ambas as imagens persistentes de África concordam com a posição que esse espaço geográfico e cultural ocupa no mapa da modernidade colonial: sem história, o Outro, como inverso da imagem de nós próprios, Europa, construída no mesmo movimento. O que Awam Amkpa faz nesta inteligente e bela exposição é oferecer-nos um novo ambiente imaginário que suscite um discurso mais racional sobre África, contrariando as diferentes fantasmagorias habituais. O que é necessário por razões éticas e epistemológicas.”
-José António Fernando Dias

Africa: See You, See Me! retrata a história da fotografia africana e da sua diáspora em toda a sua diversidade, bem como a sua influência em imaginários não-africanos de África. Outros curadores africanos proeminentes como Okwui Enwezor e Simon Njami, fizeram progredir a nossa compreensão das origens, trajetórias, complexidades e receção da criação de imagens em África. Esta exposição expande e continua as suas narrativas, chamando a atenção para reenquadramentos contemporâneos africanos de africanos em fotografias artísticas ou documentais. Em conjunto, as fotografias são textos de subjetividades africanas, arquivos da história de sociedades em criação e, por isso, também são métodos para compreender como as imagens contribuem para a emancipação.”
-Awam Amkpa

“A fotografia e o cinema foram introduzidos em África pelos exploradores europeus, administradores coloniais, antropólogos e missionários em busca do primitivo e do exótico. É, por isso, revelador que os primeiros filmes e fotografias de africanos feitos por europeus se tivessem preocupado em mostrar a nudez, as características das tribos, os costumes religiosos e os chefes africanos polígamos. Falta nesses documentários e fotos a subjetividade e o estilo pessoal dos africanos, que são materializados e emoldurados por um olhar exterior. Em certo sentido, a fotografia e o filme primitivos interessavam-me em afirmar e manter a superioridade dos europeus sobre os africanos.”
-Manthia Diawara

“Lydie Diakhaté: Quando os jovens que querem ser fotógrafos vêm ter consigo, que conselho lhes dá?
Seydou Keïta: «Muito bem.» Encorajo-os. «A fotografia é boa. Mas a máquina fotográfica com que estás a trabalhar agora, eu não a conheço.» Sempre conheci a câmara escura. Mas agora, tudo isso acabou. Nos velhos tempos, durante o período colonial, trabalhávamos em preto e branco. Tínhamos todos os materiais disponíveis. Hoje, quando queremos fazer uma impressão, é um problema sério. Corremos a praça toda e não encontramos material a preto e branco em formato 18×24. Agora, todos estes jovens tornaram-se fotógrafos e trabalham a cores. Não há muitos que façam o seu próprio trabalho em laboratório.”
-Lydie Diakhaté e Seydou Keïta

“É impressionante reparar na dimensão da presença italiana nesta exposição. Ainda mais notável é o facto de os fotógrafos de Itália e Portugal terem sido escolhidos para representar a Diáspora Africana na Europa. Ampka, juntamente com os seus artistas, recorda-nos que a Diáspora atravessa múltiplos espaços, não só os territórios das antigas potências imperiais hegemónicas. África, incluindo a sua Diáspora, é, como a Europa, uma realidade complexa, invocando uma pluralidade de visões. Só se a Europa finalmente vir na África aquilo que ela é, África verá na Europa aquilo em que ela se tornou.”
-Alessandra Di Maio

“São necessárias exposições como Africa: See You, See Me! para se revelar esse outro lado da fotografia em África e recordar o potencial libertador da fotografia. Só bem dentro do século XX é que os africanos se apossaram da possibilidade e dos meios para se documentarem. Mas, sempre que um fotógrafo africano pegava numa câmara para permitir que outros africanos dessem forma ao modo como seriam vistos, o resultado era uma fotografia de alguém destacando-se da gramática visual reificada, que é o lado escuro da fotografia desde o seu início. Sem dúvida que houve resistência, uma luta e um sacrifício corajosos para retirar os grilhões da lei colonial. Mas para que as pessoas se destacassem do conjunto de imagens disponíveis para os sujeitos colonizados, era preciso que as câmaras estivessem em mãos africanas, de modo a criar-se uma nova imagem no mundo: a de africanos livres, vistos como eles próprios determinavam.”
-Ulrich Baer

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