Catálogo da exposição individual do artista Roberto Winter, intitulada Dopamine fast – Mínimo global, que esteve patente na Galeria da Boavista entre 3 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. Inclui a reprodução das obras expostas e textos de Caroline Campbell, Tobi Maier, Júlia Ayerbe, Roberto Winter e Denis Maksimov-Gupta, para além da reprodução do texto da obra em vídeo Bandeira de conveniência (2020).
“Em Mínimo global, os primeiros vestígios do nosso futuro devir também podem ser vistos a surgir (embora em forma física). Note-se que, nesta altura, a conceção humana apenas conseguia modelar processos algorítmicos tridimensionais, tais como equações diferenciais. Muito disto está implicitamente relacionado com o facto de que o cérebro humano daquela era estava programado para noções de tempo linear, as quais serviam de padrão para tudo (a ligação com o espaço dimensional infinito do campo quântico ainda não tinha sido realizada).”
-Caroline Campbel
“Dopamine fast – Mínimo global reúne uma serie de instalações sonoras e escultóricas recentes, filmes, bem como trabalhos textuais. No seu conjunto, este novo corpo de obras foi instalado por Roberto Winter num esforço de testar a nossa capacidade de distinguirmos entre ficção e realidade, e de nos confrontar com as consequências das nossas interações no domínio digital sobre a nossa existência psicológica e fisiológica.”
-Tobi Maier
“Perfis construídos por meio do ocultamento pessoal para enfatizar um personagem não são algo excecional ou estranho nas mídias sociais, já que a estrutura desses aplicativos está construída de tal forma que quanto mais o usuário controla sua imagem e o conceito de si, mais bem sucedido ele é. Mesmo que para isso seja melhor editar os seus dados pessoais – ou removê-los. A realidade e a ficção acabam se dissolvendo para atender ao gosto de quem se deseja.”
-Júlia Ayerbe
“Ao longo dos últimos anos busquei formas de pensar e falar sobre as relações abusivas, mas não encontrei uma maneira adequada de fazê-lo. De certa forma, isso é próprio da natureza dessas relações: o amor do narcisista por quem ele pensa ser é irracional, além da argumentação, impossível de ser confrontado diretamente porque se torna uma parte essencial de seu ser. Nessa relação, o abuso é estruturante e codificado pela máquina autoalienada, e, em última análise, é praticado por um sujeito cindido, no qual a injunção de um confronto entre seu medo da irrelevância e sua vaidade, produz nele mesmo o seu próprio mestre.”
-Roberto Winter
“Antes ainda de, no mundo ocidental, o impacto das redes sociais na política se ter tornado evidente, a Rússia já experimentava com sucesso abordagens inovadoras na gestão do discurso político. O rescaldo do período turbulento que se seguiu ao colapso da União Soviética preparou o terreno para a implantação do regime de Vladimir Putin, o qual se tornou num laboratório de experimentação sociopolítica e de manipulação da tecnologia política para a nova era da política virtual. Em anos recentes, tornou-se evidente que a virtualização da política é agora um fenómeno global.”
-Denis Maksimov-Gupta
