Catálogo editado por ocasião da exposição La Neblina, de Runo Lagomarsino, a primeira exposição individual do artista e Portugal, patente na Galeria Avenida da Índia entre julho e setembro de 2018. Os textos são de Filipa Oliveira (curadora da exposição), Sara Antónia Matos e Pedro Faro, e Walter D. Mignolo.
“Runo Lagomarsino, cujos pais deixaram a Argentina após o golpe militar de 1976, viajando para a Suécia, onde o artista nasceu um ano depois, tem desenvolvido uma crítica aos paradigmas historiográficos europeus, nomeadamente através de uma denúncia dos efeitos da designada “expansão” e do colonialismo. Fá-lo através de uma desobediência criativa em relação aos modelos e narrativas epistémicas, em obras que questionam a permanência e a revisitação de monumentos, instituições e programas civilizacionais hegemónicos, introduzindo nas narrativas instauradas fissuras subtis, mas irónicas, capazes de abanar as certezas mais sólidas.”
-Sara Antónia Matos e Pedro Faro
“Na sua obra, Lagomarsino investiga os modelos geopolíticos e históricos que determinaram a modernidade do ocidente colonizador. Examina como dicotomia norte/sul e a herança colonial continuam a ser pilares que estruturam a sociedade atual e como estes são herdeiros, e em muitos casos prosseguidores, de tradições e discursos nacionalistas, racista e mesmo imperialistas. Procura, nas suas obras, revelar, com humor fino e perspicaz, essas estruturas e sempre com uma ironia mordaz. Através de metáforas, abstrações e ficções, o artista desestabiliza a ideia da história geralmente entendida como um conjunto de narrativas lineares e universais, propondo um questionamento sobre a forma como escrevemos e construímos a história, desfazendo o conceito dominante de ordem mundial.”
-Filipa Oliveira
“A tese fundamental é a seguinte: a «modernidade» é uma narrativa europeia que esconde o seu lado mais negro, a «colonialidade». A colonialidade, por outras palavras, é constitutiva da modernidade – não existe modernidade sem colonialidade. Como tal, hoje em dia a expressão comum «modernidades globais» traz implícita as «colonialidades globais», no sentido preciso em que a matriz colonial do poder (a colonialidade, dito de forma abreviada) é disputada por diversos contentores: se não pode haver modernidade sem colonialidade, também não pode haver modernidades globais sem colonialidades globais.”
-Walter D. Mignolo