Catálogo da exposição coletiva Murro no Estômago, que esteve patente na Galeria da Boavista entre 8 de fevereiro e 21 de abril de 2019. A mostra curada por Ana Cristina Cachola reúne os artistas Ana Rebordão, António Neves Nobre, Carla Filipe, Igor Jesus, Pedro Barateiro e Salomé Lamas. Esta edição congrega o texto inédito da curadora Ana Cristina Cachola, assim como republica textos e excertos dos autores Marta Espiridião, Miguel Mesquita, João Ribas, Antonia Gaeta e Pedro Barateiro, Stephan Dillemuth e Carla Filipe, e Deirdre Boyle.
“Esta publicação traça uma linha temporal paralela à exposição Murro no Estômago, reproduzindo uma série de textos que fornecem um contexto para muitas das epifanias dos artistas expostos.”
-Tobi Maier
“A rutura derivada desse murro no estômago acontece quando uma obra invade o sujeito e o confunde pela resistência simbólica a essa invasão: é esta intromissão na subjetividade que provoca uma espécie de momento traumático, ou seja, uma experiência indizível, visceral, muitas vezes pré-cognitiva.”
-Ana Cristina Cachola
“É neste limbo, entre a zona de conforto e a zona de confronto, que se posicionam as obras de Ana Rebordão. Filmadas maioritariamente na sua zona de conforto – entre a sua casa e a casa dos seus pais (…) Todos estes vídeos nos deixam entre esse momento de espera, em que assumimos o resultado de uma situação que nos é familiar só para a ver desmoronar-se na expectativa, e esse desassossego com que nos deixa esta compreensão de que nem tudo é o que parece.”
-Marta Espiridião
“Sem títulos anunciados, tampouco qualquer referencial descritivo, as pinturas não respondem a uma interpretação, ou mesmo motivação, pré-estabelecida pelo autor. Dependem por isso, de uma leitura autónoma proveniente de referenciais individuais de cada um, acentuando assim a inquietude inerente ao estatuto do incógnito.”
-Miguel Mesquita
“Carla Filipe: O título desse trabalho é Ordem de Assalto [2012]. Tratava-se de um género de roubo permitido durante um período estipulado, julgo que de três horas, em que se podia ir a uma mercearia e tirar comida. O proprietário apenas podia pedir misericórdia para não lhe levarem muitos bens. Isto passava-se em Portugal, durante a primeira República, uma fase muito turbulenta, e esta medida era uma forma de combater a escassez de mantimentos.”
-Carla Filipe e Stephan Dillemuth
“Dando continuação ao seu interesse pelos limites sensoriais tanto da percepção humana como de formas técnicas de visão, a única obra na exposição regista a luz como uma superfície. Em vez de uma imagem fantasmagórica captada num ecrã, a pele dos LEDs emite a luz da imagem ao espectador de forma material, entrando e saindo bruscamente na escuridão.”
-João Ribas
“AG:O que estás a querer dizer tem que ver com uma ideia precisa de arte/vida ou de arte representação?
PB: Ambas, porque a arte é uma das formas mais directas de representar vida. Em geral, ou pelo menos no mundo ocidental, outras culturas terão certamente outras formas de pensar. Dentro do sistema capitalista em que vivemos, os sistemas de representação estão de tal forma interligados que é impossível não sermos cúmplices e não fazer parte do sistema.”
-Antonia Gaeta e Pedro Barateiro
“Este é um filme que nos deixa a pensar sobre o colonialismo e as suas abusivas repercussões, sobre as fontes pessoais de violência e agressão que podem ser aproveitadas pelos poderes políticos de todo o mundo e sobre os soldados de infantaria que travam entusiasticamente guerras clandestinas, de forma oculta e invisível. É também um filme sobre a loucura e a sociopatia, e sobre a estreita linha que separa os heróis dos vilões.”
-Deirdre Boyle