Catálogo da exposição Novas Novas Cartas Portuguesas com a curadoria de Tobi Maier, patente na Galeria Quadrum entre 13 de outubro de 2022 e 26 de fevereiro de 2023. Contém textos de Joana Meirim, Aura, Íris Dórdio e Tobi Maier, a reprodução de uma entrevista a Simone de Beauvoir por Maria Teresa Horta, e a reprodução das obras patentes na exposição.
“Conscientes de que a arte não é feita só de sentimentos generosos, as três autoras criaram uma obra que não evita tomar posições face a um problema – sendo o principal a questão da condição da mulher portuguesa na época do Estado Novo – e não abdicam da literariedade. Aliás, as ideias que defendem só adquirem eficácia comunicativa precisamente por não renunciarem ao uso dos mais diversos expedientes literários. Fazer poesia e fazer política (ainda para mais com ideias feministas) não compromete nem a dimensão ideológica nem a dimensão estética.”
-Joana Meirim
“À semelhança das obras que tomo como referência, o veio da obra não é a pornografia nem o erotismo, mas uma reflexão crítica do status quo, através de uma representação que fomente a visibilidade de questões tabu em Portugal.”
-Aura
“Sim, freiras – pensar numa figura intimamente ligada a Deus como um fetiche leva-me a acreditar que esta ação seja um ato de rotura com a rigidez das regras religiosas. Especificamente, os Sete Sacramentos – Batismo, Confirmação, Sagrada Comunhão, Confissão, Matrimónio, Ordens Sagradas e Unção de Enfermos. A quebra destas regras através da exploração da freira, ou das comunidades fetichistas underground, apresenta freiras revestidas com um fato de borracha. São procuradas como desvios sexuais e disposições de perversão sexual. No entanto, a sobre-sexualização e o erotismo do celibato em filmes pornográficos tornou-se um ato substancial para a quebra dos cânones bíblicos.”
-Íris Dórdio
“A exposição posiciona assim a experiência literária das Novas Cartas Portuguesas numa analogia com obras de arte que revisitam tópicos levantados pela perspetiva de artistas contemporâneas, abrangendo várias ondas de movimentos feministas. A leitura das Novas Cartas Portuguesas espoletou várias analogias visuais. Como seria escrito este livro hoje em dia? Poderia uma atualização ser narrada através de imagens? Ao falar com artistas, fui encorajado a trabalhar os assuntos tratados neste livro que, segundo elas, continuam a ser chocantes até à atualidade.”
-Tobi Maier