Fernando Ventura (Sara De Chiara)
Daniel Peres
Publicação decorrente da exposição Pantalons pour attirer le vent de Francisca Carvalho com curadoria de Antonia Gaeta, patente no Pavilhão Branco de 26 de setembro de 2023 a 7 de janeiro de 2024. Com textos de Antonia Gaeta, Emanuele Coccia, Francisca Carvalho, Sara Antónia Matos e Pedro Faro, Sara De Chiara. A publicação contém ainda vistas de exposição, fotografias do corpo de trabalho, e diversos desenhos a lápis de cor, alguns não apresentados na mostra, que a artista avança como fundadores desta série de trabalho.
“Guadalupe, ouves-me?
Com uma flauta na boca e um tamborim na mão cavalgas um peixe-espada ao lado da raposa de longa cauda peluda. As nuvens parecem mentira, tufos de verde até ao pescoço, estradas de pedras e pó. Jean, a gata das meias brancas já foi e nós? Vai tu, vai tu, irei a seguir, o caminho ainda é longo. Uma certa melancolia me abraçou. Sob os ramos floridos das romãs sobrevive-se graças a um amor profundo ou a uma acre ironia.”
— Antonia Gaeta
“Carvalho parece regressar a estas latitudes temporais com vista a pintar um espaço onde as imagens, todas as imagens, se juntam e se misturam. Não é um arquivo; é algo mais radical. E não é só uma extravagância estética: é uma reação à nova condição em que nos encontramos.”
— Emanuele Coccia
“São misturas de sinais, indícios, personagens, amalgamas emergentes, entre elas, o tweed de Ruy Leitão. Era como falar com amigos alive and deceased, por telepatia. Vieram depois os grandes formatos, feitos a gouache, no chão. A mistura continua sem errância. A escala é já espraiamento a pedir decisão e grãos de slumberland. Lembro-me dos cartazes de Bollywood, quimonos abertos, wooden-block prints de Jaipur a repetirem-se em faixas de pano a todo o comprimento, publicidades desenhadas à mão nos anos trinta, um Cristo de Cimabue em Florença que encontrei por acaso, num claustro, o pintor Phan Cam Thuong. O visível ondulante, impermanente—ukiyo-e.”
— Francisca Carvalho
“As obras desta artista surgem animadas por combinações intrigantes de diversos fragmentos, aparentemente não narrativos, e explorados no seu potencial serial. Relevam um procedimento que envolve o distorcer do espaço e do tempo convencionais, pondo em jogo absurdo e celebração em simultâneo, assim gerando singulares e vertiginosas recomposições. São poéticas, pode dizer-se. Não são sobre isto ou aquilo, mas existem e resistem impondo-se frente a nós, fazendo-nos parar e vaguear nos seus meandros.”
— Sara Antónia Matos e Pedro Faro
“O vento parece ter atuado como um cúmplice na criação das pinturas da série Pantalons pour attirer le vent, realizada a guache sobre grandes folhas de papel em 2023 e apresentada na exposição. Se podemos identificar o vento como o artífice da coreografia que, por exemplo, move os leques de Abanicos como se fossem folhas espalhadas pelo chão de ladrilhos numa sinfonia doméstica (e irónica) de outono, o mesmo parece ter contribuído, de forma mais subtil, para a composição «desgrenhada» de algumas das pinturas da série, atuando mais na elaboração e organização espacial do que na temática.”
— Sara De Chiara
Fernando Ventura (Sara De Chiara)
Daniel Peres