– 18.06.2017
Sábado e Domingo: 14h -18h
«Quero que o irracional seja continuamente sobredeterminado, como a estrutura do coral; deverá combinar num único sistema tudo aquilo que até agora foi sistematicamente excluído por um modo de razão que permanece ainda incompleto.»
[Roger Caillois, carta de 27 de dezembro de 1934 a André Breton, in Claudine Frank, ed. The Edge of Surrealism: A Roger Caillois Reader (Durham, NC and London: Duke University Press, 2003), pp. 84-86]
Confrontando aceitações socioculturais dominantes que veem a linguagem como uma arena de textos, ideologias, narrativas, códigos e metáforas, Palavras Cósmicas é uma exposição coletiva que explora os movimentos e as interações entre a matéria e a linguagem. Enquanto que o uso comum da linguagem designa uma intenção de comunicar, em última análise, esta é em si mesma um significante físico livre, que pode servir como ponte em direção a uma compreensão do mundo natural construída sobre as bases de forças físicas, fluxos e trocas materiais.
Inspirado em L’Écriture des Pierres de Roger Caillois, esta exposição reflete sobre o modo como o sentido emerge no vórtice de processos biológicos, fluxos de energia, dinâmicas sociais e interações físicas, e em que medida os humanos estão conscientes da axiomática que une estas forças indivisíveis.
No seu livro, Caillois propõe um imaginário de pedras que nos remete para as visões do cosmos de Ovídio, nas quais o inorgânico e o orgânico, pedra e carne, se fundem ao longo do contínuo que unifica tudo. A exposição procura assim criar uma experiência em que diferentes processos de matéria e energia interagem com os caprichos e as vontades das linguagens humanas, para formar uma visão panorâmica – livre das estruturas rígidas e noções ocidentais de progresso e ordem – que nos permite visualizar os ritmos físicos da linguagem que flui através dos materiais, da cultura e da produção de sentido.
Um ritmo que se contrai ou que se expande, acelera ou abranda, dando forma a estruturas autopoiéticas de conhecimento e relações socionaturais.
Estruturas tão diferentes como plantas, pedras, espécies animais e sociedades podem ser vistas como sendo o resultado de processos geradores semelhantes. Mas possuirá a linguagem um aparato material semelhante? Como se articulam entre si a linguagem e outros processos físicos? Que espécie de lógica opera no interior desta dinâmica? As acumulações de materiais linguísticos, agrupados em conjuntos homogéneos, são exemplos de sistemas estratificados, podendo-se, assim, dizer que a linguagem segue a mesma dinâmica física.
A exposição compreende uma seleção de artistas que se interessam pelo modo como a linguagem afeta o mundo material. Estes artistas examinam os processos responsáveis pela estruturação da linguagem em relação com aqueles das pedras, plantas, animais e sociedades; permitindo-nos refletir sobre o atual momento de emergência ambiental, ao mesmo tempo que propõem uma empatia material para com o cosmos natural e não-humano no qual coexistimos.
– Alejandro Aloso Díaz, curador
– 18.06.2017
Sábado e Domingo: 14h -18h