– 04.10.2020
Em 1981, a revista de arte feminista norte-americana Heresies dedicou a sua 13.ª edição à exploração das relações entre feminismo e ecologia. Intitulada Earthkeeping / Earthshaking, esta edição contou com a contribuição de autoras de várias nacionalidades, entre elas a crítica de arte Lucy Lippard, as artistas Ana Mendieta, Faith Wilding, Bonnie Ora Sherk, Cecilia Vicuña, e a escritora Gioconda Belli.
A partir da pergunta “O que é que as mulheres podem fazer acerca da direção desastrosa que o mundo está a tomar?”, Heresies #13 pretendia questionar as relações entre feminismos e ecologia através de múltiplas perspectivas, desde a necessidade da teoria feminista “integrar a vida social, a história e os ambientes naturais” até à resistência à exploração capitalista dos recursos dos países do então chamado “Terceiro Mundo” e à preocupação com o crescente militarismo da administração norte-americana.
Tomando Heresies #13 como ponto de partida e como arquivo histórico e político capaz de estimular uma reflexão fértil acerca da triangulação entre arte, ecologia e feminismos, a exposição Earthkeeping /Earthshaking - arte, feminismos e ecologia pretende afirmar o papel pioneiro desempenhado por numerosas artistas neste âmbito específico e, ao mesmo tempo, problematizar a operacionalidade do seu contributo no presente. Assim, a exposição reúne um conjunto de obras e de material documental de artistas que – através da articulação de olhares e práticas bastante heterogéneos – questionaram, nos anos 70 e início dos anos 80, a relação do indivíduo ou colectividade com o ambiente natural, as dicotomias entre natureza e cultura, a associação tradicional do feminino com as forças da natureza, as relações complexas entre capitalismo avançado, histórias coloniais e destruição do ambiente.
Algumas das artistas cujo trabalho é aqui apresentado contribuíram de forma diversa para Heresies #13, outras foram selecionadas por causa do diálogo desafiante que a sua prática desta época tece com as questões abordadas. Com obras produzidas especificamente para a exposição, participam também alguns artistas de gerações mais novas, e residentes em Lisboa, cujo trabalho mostra uma preocupação específica com esta temática no presente. Além de traçar linhas genealógicas significativas, o cruzamento entre perspectivas desenvolvidas nos anos 70 e 80 e na actualidade tem o objectivo de inscrever as problemáticas exploradas numa contemporaneidade situada e reivindicar a urgência da sua discussão no contexto português.
A exposição tem o apoio do Istituto Italiano di Cultura – Lisbona, da FLAD – Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e da Pro Helvetia.
– Giulia Lamoni & Vanessa Badagliacca, curadoras
– 04.10.2020