– 12.01.2020
14h30 - 19h
Sábado e domingo:
10h-13h e 14h-18h
A obra de Rui Sanches (Lisboa, 1954) tem vindo a desenvolver-se, ao longo dos últimos 35 anos (a sua primeira exposição individual em Portugal teve lugar em 1984) como uma extensa reflexão em torno de três questões fundamentais: a relação da criação moderna e contemporânea com a história e as diferentes linhagens que se foram definindo, a possibilidade de pensar a questão do ponto de vista do espectador e o recorrente problema da relação da arte com o mundo, seja por processos de re-significação, de relação com o contexto, de citação ou paráfrase de obras referenciais da história da pintura, ou pelo léxico de materiais utilizado.
Rui Sanches, que começou o seu percurso pela pintura, no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, veio a centrar-se na escultura a partir da sua formação no Goldsmiths’ College de Londres (onde estudou entre 1977 e 1980), interesse reafirmado nos dois anos seguintes em que estudou na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, para além de uma prática sistemática e reiterada de desenho. A exposição Espelho está, assim, dividida em dois volantes: aqui, no Torreão Nascente da Cordoaria, é apresentada a sua obra em escultura, enquanto que no Museu Berardo, com curadoria de Sara Antónia Matos, o foco é colocado na sua produção em desenho.
A escultura, para Rui Sanches, reflete as grandes transformações que a arte sofreu no longo e sinuoso caminho da modernidade. Nesse sentido, o seu trabalho escultórico merece ser compreendido como uma extensa reflexão sobre os problemas da escultura ou, mais genericamente, sobre as transformações da estatuária em escultura e desta em tridimensionalidade ou ainda desta última em ambiente que marcaram o último século e meio.
Com a sua formação realizada entre o final da década de 1970 e o início do decénio seguinte, Rui Sanches desenvolveu um corpo de trabalho que espelha uma dualidade: por um lado, as suas influências situam-se na arte do seu tempo, nomeadamente nas vanguardas, mas por outro, a descontinuidade em relação à história da arte confronta-se com a continuidade de temáticas e problemas de representação. A questão mais relevante para uma abordagem atual da obra de Sanches, é que o reencontro com a história é estruturante, sobretudo porque essa história da arte é sobretudo uma história das imagens artísticas, ancorada, pelo menos no seu início, na história da pintura.
A exposição encontra-se estruturada da seguinte forma: iniciando-se com três obras recentes (e uma das quais especificamente concebida para esta ocasião) é proposto um mergulho no seu trabalho da década de 1980, nomeadamente através das esculturas que parafraseiam, a três dimensões, pinturas de Poussin e David, desconstruindo-as. São aqui também apresentadas obras do início do percurso de Sanches, inéditas até agora em Portugal. Essa lógica é continuada na primeira sala do piso superior. Na sala seguinte é colocado um foco sobre o recurso a uma categoria específica da história da estatuária, o busto – e a sua relação com o retrato. Por fim, na última sala, o corpo, o toque e o caráter háptico da escultura conduzem a deambulação do espectador.
Entre o caráter orgânico e a desconstrução, o uso de materiais “pobres” e industriais e a manufactura, entre a referência a modelos da história da arte e a pesquisa abstracta, a exposição pretende, assim, dar conta da complexidade – e também da grande coerência – do percurso de Rui Sanches.
A sua obra é, portanto, um espelho da escultura e da relação desta com a imagem e nesta reflexão é investido um processo de resignificação que nos convoca como o seu outro através de uma consciência sempre presente dos mecanismos da exposição e os dispositivos perceptivos, fenomenológicos e estéticos das linhagens artísticas. Por isso é um espelho.
– Delfim Sardo, Curador
– 12.01.2020
14h30 - 19h
Sábado e domingo:
10h-13h e 14h-18h