– 27.09.2015
Como pode o pensamento artístico participar e informar a observação de um mundo regido pelas ideias de tentativa e erro?
A exposição de Nicolás Robbio propõe uma analogia metafórica entre os pensamentos utópicos da lógica humana e a geometria matemática presente nos movimentos da natureza.
A exposição toma como ponto de partida o próprio espaço onde terá lugar, a Galeria Municipal – Pavilhão Branco do Museu de Lisboa – um edifício construído num jardim, cujas paredes são na sua maioria feitas de vidro. O pavilhão assemelha-se a um aquário, dentro do qual uma série de movimentos e de ações tomam lugar.
Partindo da ideia de um aquário, Robbio cria uma exposição cuja métrica assenta num jogo de escalas e de pontos de observação. Ora o espectador é um Gulliver que olha para as cidades liliputianas como um gigante para pequenas formações, ora o espectador é ele mesmo um liliputiano submergido numa instalação gigante. Do micro ao macro, do distante ao muito próximo, Robbio ensaia uma narrativa que se desenrola através de uma multiplicidade de pequenos elementos e intervenções de leituras cruzadas que comunicam de um espaço para o outro, de uma obra para outra.
Cada sala de exposição é um mundo em si, um universo inteiro compreendido naquele espaço clausurado. Cada sala é uma topografia ensaiada a escalas diferentes, com pontos de vista distintos, quase antagónicos. Mas, se por um lado, cada sala é um mundo, também se poderia dizer que cada uma é um desenho de um mundo. A exposição acontece na relação (física, sensível e conceptual) que o espectador estabelece com cada mapa, com cada desenho, na sucessão entre espaços e nas graduações da perspetiva.
A exposição apresenta um movimento sincopado de observação da ordem natural e tenta contrariar, através de gestos poéticos, a ordem natural, ou pelo menos tenta propor uma nova ordem, uma nova possibilidade de ler e entender a linguagem (ou linguagens) do real. Um real que parte do racional, de um espírito (aparentemente) geométrico (de Pascal) e que através de diferentes experiências, de múltiplas intervenções, de cruzamentos de ritmos e interceções de sensações e emoções, constrói um pensamento comum e uma nova estrutura de entendimento do quotidiano.
Encantadoras e enigmáticas, numa constante ilusão de simplicidade, as intervenções de Nicolás Robbio desafiam o espetador a não ser um observador distanciado da arte (e da natureza), mas antes a participar na construção de uma nova realidade e a encontrar novas configurações de relação com as formas (naturais e construídas). Uma observação que nunca pode ser pontual e situada, mas antes em movimento e panorâmica. De sala para sala, de baixo e de cima, dentro e fora.
Filipa Oliveira, curadora
– 27.09.2015