– 05.06.2016
Com Paisagens Interiores a EGEAC dá continuidade a uma linha expositiva na Galeria Avenida da Índia que trabalha o lugar da memória. Situada numa zona de Lisboa que convoca o passado do país – como o seu nome indicia – é um espaço em que se trabalham conceitos como o de pós-colonialismo, ou tão simplesmente, o que resulta hoje da história cruzada de Portugal e dos países e povos com quem se relacionou.
Paisagens Interiores, de Filipe Branquinho enquadra-se duplamente neste contexto, porque traz Maputo até Lisboa e a memória de locais que convocam diferentes tempos dessa cidade. Através de um olhar descomplexado, ligeiramente furtivo, vemos como estão e quem frequenta hoje as escolas, os cinemas, as associações e tantos outros sítios de Maputo, a então Lourenço Marques, que continuam vivos e a fazer parte da vida quotidiana da cidade.
As paisagens que vemos nesta exposição levam-nos efectivamente a uma viagem interior. A actualidade das fotografias e a banalidade da acção que muitas delas retratam contrastam com o passado que elas evocam e a emoção que podem provocar em quem passou por estes sítios.
Será talvez este contraste entre distanciamento e proximidade, que torna esta exposição um exemplo particularmente bem conseguido do que todos ganhamos em olhar para o passado neste presente, em Maputo, como em Lisboa.
– Joana Gomes Cardoso, Presidente do Conselho de Administração da EGEAC
Paisagens Interiores é o projeto fotográfico mais recente de Filipe Branquinho sobre Maputo, a cidade onde nasceu, vive e trabalha. Na génese deste projeto está o desejo de conhecer as histórias da cidade no cruzar dos tempos, aqueles que a percorre(ra)m e a habita(ra)m, aqueles que a construíram e constroem.
Afastando-se de um registo documental convencional ou de uma busca em fixar edifícios icónicos de Maputo, Branquinho propõe-nos uma viagem por espaços públicos e semipúblicos da cidade, geralmente interiores de edifícios, saturados de vestígios e passagens, de histórias e indícios, de uma oscilação permanente entre presente e passado que prende o olhar. Cinemas, rádio associações, arquivos, escolas, piscinas são revisitados sem nostalgia pelo olhar perscrutador, apaixonado e depurado do fotógrafo.
Com Paisagens Interiores, Filipe Branquinho propõe um debate sobre Maputo enquanto cidade africana pós-colonial. Uma cidade que se constrói diariamente, na busca de respostas e aspirações a uma modernidade de contornos difusos. É um registo intersticial da memória presente que abre o debate sobre o futuro.
– Alexandra Pinho
O tema ou temas desta colecção é, ou são, mas nem sempre à primeira vista, o presente do passado.
Cada imagem explora a pátina do tempo sobre os espaços e as formas, os ambientes e os materiais, a cor e a luz e a urbanidade do local.
Branquinho não explora estes temas com qualquer saudosismo romântico ou sentimentalista, mas com a perspectiva e o olhar do repórter.
A ausência, quase geral, da presença humana acresce, em cada imagem, a intensidade de uma presença dramática, surda e ambígua, que se revela na ilustração e no uso do sítio como se visto pelo seu dono, utente ou ocupante.
A maior força destas imagens poderosas vem-lhe exactamente do que deixa para o observador: a responsabilidade do senti-las como parte do seu universo imaginário… ou de um mundo que porventura nem imaginava e que vai deixá-lo numa perplexidade sugestionada pelo aleatório e esporádico registo de um universo de realidades subtis descobertas e alinhadas com um sentido que cabe ao fotógrafo fazer-nos descobrir: a intensidade poética dos espaços e dos momentos mais prosaicos e mais comuns, pelos quais passamos, cegos e surdos.
É nessa lição de sensibilidade a visão do quotidiano e do comum, à força do mau gosto e à novidade do convencional; a esse permanente estar alerta para os elementos mais secundários do que nos envolve que reside a subterrânea mestria e anti-heróica qualidade desta sequência de imagens.
O tema é, aqui, o processo. Não o processo técnico ou mesmo estético, que lhe são sempre indespensáveis, mas o processo de ver o mundo, e como os homens o vivem e transformam de acordo com as suas culturas, idades e meios e – porque não – maneiras de o sentir e adaptar, impondo-lhes os seus símbolos, os seus fantasmas e os ecos apagados dos seus sonhos incumpridos.
– José Forjaz
– 05.06.2016