– 27.11.2022
Entre 1961 e 1974, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) travam guerras de Libertação contra o sistema fascista e colonial português. Fundados entre 1956 e 1962, os três movimentos lutam pela independência após quase cinco séculos de dominação colonial e de resistência. A Revolução de 1974-1975 põe fim ao Estado Novo e abre caminho às independências. A Guiné-Bissau torna-se independente em 1974, seguida de Moçambique e Angola no ano seguinte. Nestes dois países, desenrolam-se guerras civis internacionalizadas no quadro da Guerra Fria.
Nesta conjuntura histórica, a descolonização política é considerada como indissociável da descolonização da cultura e das formas visuais. A cultura e a arte são entendidas como um campo produtor de efeitos de transformação na sociedade. As Revoluções africanas são um período de libertação da palavra, da imagem e das formas de representação. Para Amílcar Cabral, líder do PAIGC, a luta de libertação é, em si mesma, um “facto cultural” e um “factor de cultura”. A resistência política é uma forma de resistência cultural, do mesmo modo que a resistência cultural é uma forma de resistência política.
No contexto da cultura de libertação transnacional e de solidariedade internacionalista das décadas de sessenta e setenta, as lutas de libertação despertam o interesse de fotógrafos e cineastas. A revista, o livro, a fotografia e o cinema são percebidos como instrumentos fundamentais para mobilizar o apoio popular e difundir a luta pela descolonização a nível internacional. Fotógrafos como Augusta Conchiglia e Tadahiro Ogawa, entre outros, documentam a luta armada e a vida nas zonas libertadas, onde se experimentavam diferentes formas de organização social e se implementavam projectos de pedagogia radical. Entretanto, jovens portugueses desertores e refractários recusam-se a participar na guerra e exilam-se em França e noutros países.
Depois das independências, outros livros de fotografia documentam o processo de construção dos Estados-nação. Entre o militantismo e a experimentação formal, estes livros restituem a dimensão sensível dos primeiros anos de independência, período marcado pela adopção de modelos políticos marxistas-leninistas e pela busca de uma imagem descolonizada.
Reunindo um conjunto inédito de livros, fotografias e documentos produzidos entre as décadas de sessenta e oitenta, esta exposição desenha uma constelação espacial e temporal da estética de Libertação. Além de um vasto conjunto de livros, revistas, cartazes e documentos, a mostra inclui obras fotográficas e cinematográficas das décadas de sessenta e setenta de Augusta Conchiglia, Moira Forjaz, Silvestre Pestana e da cooperativa Grupo Zero. Integra também peças recentes de Daniel Barroca, Welket Bungué, Filipa César e Sónia Vaz Borges que interrogam a história e a memória, reelaboram as formas visuais da estética de Libertação e examinam a persistência de estruturas coloniais no presente.
– Catarina Boieiro e Raquel Schefer, Curadoras da exposição
Exposição organizada no âmbito da programação da Saison France – Portugal 2022
Descarregue aqui a Folha de Sala para Crianças.
– 27.11.2022