Tendo o debate entre Senghor e Soyinka como ponto de partida, a minha apresentação interroga duas ocorrências históricas. A primeira é a formulação do movimento da Negritude na África Francófona, que teve repercussões no mundo lusófono na forma como Amílcar Cabral, por exemplo, articula a questão como “regresso às origens”. A segunda é a inexistência de um movimento paralelo na África Anglófona. Para explicar tal divergência analiso as diferentes formas de colonialismo, e o tipo de sociedades pós-coloniais que geraram. Para fundamentação da relação entre movimentos precursores do nacionalismo, como a Négritude, e pós-colonialismo, debruço-me brevemente sobre o contexto de Édouard Glissant, a Martinica, em que um movimento de descolonização não gerou necessariamente independência em relação à nação colonizadora, a França.
Filmes:
Édouard Glissant, Um Mundo em Relação (2010, EUA, 51’)
Realizador: Manthia Diawara; Produção: Lydie Diakhaté, K’a Yéléma Productions; Montagem: Laurence Attali; Imagem: Karim Akadiri Soumaila; Som: Didier Brudell, Karim A. Soumaila; Com: Édouard Glissant; Legendado em português
Em 2009, com a sua câmara, Manthia Diawara seguiu Édouard Glissant no Queen Mary II numa viagem através do Atlântico, de South Hampton (Reino Unido) a Brooklyn (Nova York), uma rota que tantos escravos atravessaram. Esta meditação poética continuou na Martinica, a casa natal de Édouard Glissant. Desta extraordinária viagem resultou a produção de uma biografia intelectual na qual Glissant elabora sobre a sua teoria da Relação e o conceito de “Tout-monde”. Poeta, filósofo e romancista Édouard Glissant (1928-2011) é um dos principais pensadores contemporâneos no universo da crioulização, da diversidade e da identidade cultural.
Wole Soyinka e Léopold Senghor – Um Diálogo sobre a Negritude (2015, EUA/França/Alemanha/Portugal, 59’)
Realizador: Manthia Diawara; Produção: Lydie Diakhaté, Jürgen Bock; Montagem: Adam Khalil, France Langlois; Imagem: Edgardo Parada, Serge Blerald; Som: Awam Amkpa, Serge Blerald; Com: Wole Soyinka; Legendado em português
Partindo de material de arquivo, Manthia Diawara organiza um diálogo imaginado entre Léopold Senghor, um dos fundadores do conceito de Negritude, e Wole Soyinka, escritor nigeriano laureado com o Prémio Nobel da Literatura. Segundo Manthia Diawara, “o filme prova a relevância atual do conceito de Negritude, confrontando o ponto de vista dos seus muitos críticos, não apenas para os processos de descolonização e independência das décadas de 1950 e 1960, mas também para a compreensão do nacionalismo nos contextos artísticos e políticos contemporâneos, a intolerância religiosa, o multiculturalismo, o êxodo africano e de outras populações do Sul, e as políticas migratórias xenófobas do Ocidente”.