Criado por Mattin para as Galerias Municipais, a terceira interação de Expanding Concert (Lisboa 2019 – 2023) contará com um concerto de Mattin e Margarida Garcia com DJ Marfox, no dia 19 de Setembro, na Galeria Avenida da Índia. A resposta em forma de texto será dada por Pierre Bal-Blanc.
Expanding Concert (Lisboa 2019 – 2023)
Há quase um ano, Mattin e Margarida Garcia retomaram um espaço de reflexão: como pode a arte (neste caso, um concerto contínuo) responder a problemas globais e locais sem usar a ironia que faz parte do discurso artístico desde, pelo menos, as latas de Warhol? […] A segunda performance ao vivo de Expanding Concert ocorreu durante a pandemia COVID-19. Em vez de se movimentarem livremente, todos os participantes tiveram de manter a distância. Em vez de rostos expondo reacções, máscaras cirúrgicas escondiam expressões faciais.” Este trecho faz parte de um texto de Regina de Morais que responde a segunda edição de Expanding Concert 2019 – 2023 no ano passado.
O que mudou desde então nas nossas vidas? Como estamos a avançar nesta era conturbada? A terceira edição do Expanding Concert convida-o a colocar as questões connosco e a fazer ressoar as ideias dentro da galeria.
Expanding Concert (Lisboa 2019-2023) é um concerto de quatro anos distribuído no tempo e no espaço através de diferentes meios: 5 intervenções públicas em 5 Galerias Municipais diferentes em Lisboa e resultando em 5 textos.
Este concerto explorará a noção de chamada e resposta na improvisação de forma expandida: cada intervenção pública é uma forma de chamada. Como resposta, um escritor será convidado a participar da intervenção e a escrever um texto sobre ela depois. Essas respostas tentarão contextualizar a intervenção em relação à situação artística, política e econômica de Lisboa na época. Expanding Concert será um longo concerto improvisado, e uma tentativa de pensar historicamente enquanto está acontecendo.
Mattin é um artista de Bilbau – que vive em Berlim – e trabalha com música noise e improvisação. Utilizando uma abordagem conceptual, ele pretende questionar a natureza e os parâmetros da improvisação, e especificamente a relação entre a ideia de ”liberdade” e a constante inovação que esta implica tradicionalmente, assim como as convenções estabelecidas da improvisação como género artístico. Mattin considera a improvisação não apenas como uma interação entre artistas e instrumentos, mas também como uma situação que envolve todos os elementos que constituem uma apresentação pública, incluindo o público e o espaço social e arquitectónico. Mattin concluiu recentemente o doutoramento na Universidade do País Basco, sob a supervisão de Ray Brassier e Josu Rekalde. Juntamente com Anthony Iles, coeditou o livro Noise & Capitalism em 2009. Em 2012, o CAC Brétigny e a Tuamaturgia publicaram Unconstituted Praxis, um livro que compila os seus textos, entrevistas e resenhas de performances nas quais participou. Ambos os livros estão disponíveis online. A sua monografia “Social Dissonance” será publicada pela Urbanomic no final de 2021. Mattin participou da documenta14 em Atenas e Kassel em 2017.
Margarida Garcia (Lisboa, 1977) tem vindo a desenvolver desde meados dos anos noventa uma linguagem muito pessoal e distinta para o contrabaixo eléctrico. Ela vai muito além da práxis de improvisação contemporânea com uma ligação profunda para o underground psicadélico contemporâneo. Antes de mudar para Nova Iorque em 2004, onde viveu durante sete anos e foi encontrada a tocar regularmente em concertos com Loren Connors e Marcia Bassett, era uma figura muito presente no som underground de Lisboa. Ali conheceu o guitarrista Manuel Mota, colaborador próximo desde o seu início musical. A primeira publicação conjunta remonta a 1998. As suas explorações no espaço do arco, na sua maioria escuramente dramático, em território profundamente lamacento e silencioso, foram também encontradas em colaborações com Thurston Moore, David Maranha, Gabriel Ferrandini, Filipe Felizardo, Barry Weisblat e Nöel Akchoté, entre outros. Desde 2014 vive entre Lisboa e Antuérpia, onde trabalha frequentemente com a Graindelavoix (Björn Schmelzer) nos seus vários empreendimentos artísticos. A colaboração com Mattin começou em 2003 com a sua dupla “for permitted consumption”, e estendeu-se a várias performances ao vivo e publicações incluindo Kevin Failure, Loy Fankbonner, Billy Bao, Tim Barnes, Eddie Prévost, Rhodri Davies, Mark Wastell, Emma Heditch e o artista de Fluxus Jeff Perkins.
DJ Marfox é uma autêntica lenda urbana, suburbana e do gueto lisboeta. Foi um dos edificadores da Príncipe e continua sendo dos seus mais brilhantes embaixadores. A sua inigualável visão de techno barroco e ritmicamente expansivo, imbuído de Garage, Bass e Batida, tem cativado público e crítica com títulos em selos discográficos como a Boomkat Records, Enchufada, Lit City Trax e Warp Records. Olhando para trás neste virar de década, para além da Viagem contínua a tocar pelo globo, destacam-se o currículo impressionante de remisturas (tUnE-yArDs, Capicua, Panda Bear, Elza Soares, Fever Ray, entre outros), a encomenda de música original para a instalação da artista Natascha Sadr Haghighian no Pavilhão Alemão na Bienal de Veneza 2019, ou as distinções de vários quadrantes da cultura de música de dança para este pioneiro produtor e DJ Português com raízes São Tomenses.