A fantasia é uma consequência especial da imaginação, o principal conteúdo dos processos mentais inconscientes, designação dos sonhos lúcidos e invenções. Lacan define fantasia como o suporte da suposta realidade, um cenário imaginário que dá estabilidade à existência humana e estrutura o nosso desejo. Ao mesmo tempo, a fantasia representa não só a estrutura da existência humana, mas também toda a base da existência da realidade social.
O real é uma espécie de entidade quimérica que não possui qualquer estabilidade ontológica, sendo um “evento” traumático, o ponto de falência da simbolização, produzindo a sua presença ilusória de alterações estruturais na realidade simbólica do sujeito.
A fórmula para a fantasia procurou criar um cenário imaginário que preencha a incerteza, a falha no desejo do Outro. A fantasia define o enquadramento em que o sujeito tem a capacidade de desejar.
O cenário imaginário do vídeo “Rosebud” (2013), de James Richards, é baseado num estudo de raspagens sobre papel que escondem – aliás, apagam – imagens eróticas em fotografias de Mapplethorpe, Tillmans ou Man Ray. Fetichisando um movimento de um conjunto restrito de imagens, o artista cativa o público para esta viagem de sensações.
“The Palace” (2013), de Emily Wardill, joga com a materialidade do “analógico” e a abstração do “digital”. Aqui o analógico projeta uma estética do digital, acompanhado de uma voz masculina que descreve os estados psicológico e percetual nos quais os pormenores concretos se tornam turvos, numa experiência de monocromatismo que impede a perceção das cores.
No seu filme “The Death of Father Men” (2018), Mikhail Maksimov conta a história de um neurocrime baseada na investigação da morte do padre Alexander, que o artista incorpora numa realidade virtual aumentada que reflete sobre a ideia de melancolia como um símbolo maior da cultura russa.
O cenário imaginário no filme de Anna Studinovskaya é baseado no conceito de técnicas de testes de confiabilidade avançada/testes de durabilidade avançada, os quais são desenhados para avaliar o conhecimento de um indivíduo dos requisitos de segurança para o transporte rodoviário de materiais perigosos, neste caso aplicados a seres humanos. O seu vídeo “ART / ADT” (2016) contempla a noção de harmonia futura na era pós-humana.
No seu vídeo “Car/Lake” (2014), John Wood e Paul Harrison desembrulham a matéria cinemática das imagens em movimento, explorando-a como se a analisassem ao microscópio, usando a paisagem como unidade de medida do movimento.
Em “Walking stick” (2017), Paul Spengemann cria uma criatura fantasmagórica que habita o mundo humano e fornece uma visão da possível existência de “outras” identidades.
A pós-realidade – mistura de realidade virtual e vida quotidiana – é um leitmotif na obra de Dmitry Kavka. Ao fotografar ou digitalizar objetos do mundo à nossa volta, o artista está a traduzi-los do mundo real para o virtual, retornando depois à realidade transformada na sua essência, com novas formas e propriedades. O seu vídeo “When will it end? Never” (2016) é a quinta-essência das paisagens pós-apocalípticas dos jogos de computador localizados nos subúrbios pós-soviéticos.
Sara Culmann utiliza conteúdos livres da Internet para criar um simulacro da realidade baseada nos clichés da produção dos meios de comunicação de massa. O seu filme de gângsteres apropriado “Copyleft production” (2014) irradia ansiedade e distanciamento, parasitando regras e perceções.
O filme de Gabriel Abrantes “Freud Und Friends” (2015) representa, com ironia, o seu inconsciente e transforma-o num anúncio ao Óleo de Banho de Pastel de Belém, que lhe permite usar um pouco de cozinha tradicional portuguesa na sua pele.
–Dasha Birukova