Somos ilhas habitando outras ilhas.
O ser espera em silêncio o oráculo como se esperasse um renascimento.
O corpo terra a água espírito.
Pedro da Conceição
Silêncio
As Guardiãs
do (centro) umbigo do mundo
“Conceber uma escultura ou um conjunto escultórico é sempre um desafio. Muito delicadamente quando se trata de cerâmica. Esta, tem tudo a ver com o tempo cronológico e com o tempo que tarda a criação, cumprindo operações e técnicas, até à conclusão final, decidida entre obra e autores.
Pensar no nascimento da cerâmica e da sua íntima relação com o gesto, o signo e o tempo. Reconhecer no barro um suporte ancestral para a escrita, veículo transitório entre o som, o fonema, sílaba, palavra e a frase. Pensar na matemática, no cálculo como primeira forma de escrita, na invenção do algarismo. Pensemos na necessidade de transformar sons em sinais. O vento leva as palavras, o mesmo vento, ou talvez outro, também as traz. São compostas por som, as palavras ditas, as escritas são de barro. O ar é o canal por onde se deslocam as palavras, o barro é a matéria que dá corpo ao gesto.
A minha relação com a cerâmica acontece maioritariamente a dois. Sozinhos muitas vezes. Uma aprendizagem que coincide com a descoberta de nós mesmos, enquanto pessoas, dois artistas e uma vida em comum, aprendendo em conjunto. O barro é unidade, é criação e partilha, é ancestralidade. Desde logo convida ao contacto com a matéria, que é
● terra, água, ar e fogo, contendo em si todas as possibilidades formais ou informais, numa disponibilidade criativa ilimitada”
– Jacira da Conceição