Composta por Violaine Lochu como parte do projecto Twin Islands, realizado em paralelo com a artista portuguesa Sara Bichão, W Song centra-se nos sinais sonoros subaquáticos e no fenómeno da localização de ressonância (ou ecolocalização). Este termo refere-se à forma como certos animais emitem sons a fim de se localizarem no espaço e em relação aos elementos do seu ambiente – parceiros, obstáculos, predadores, presas, etc. As tecnologias humanas, como os sonares, utilizam este princípio.
Violaine Lochu e Sara Bichão, durante as suas residências paralelas, uma na ilha de São Miguel nos Açores (Portugal), a outra na ilha de Ouessant ao largo da costa da Bretanha (França), refletem sobre os meios de comunicação à distância. A presença de cetáceos perto dos Açores levou Violaine Lochu a analisar o seu modo de comunicação.
Este elaborado sistema de cliques, campainhas, apitos e rugidos permite-lhes mover-se, encontrar o seu rumo, expressar o seu desejo sexual e até mesmo o seu lugar na hierarquia social. É essencial para a sua sobrevivência individual e coletiva. A ecolocalização animal, particularmente a dos grandes mamíferos marinhos, é largamente parasitada por tecnologias humanas – sonares, armas aéreas, etc. Inicialmente utilizadas para fins militares (localização de submarinos inimigos, por exemplo), estas tecnologias são agora utilizadas principalmente para a exploração do fundo marinho (prospeção de hidrocarbonetos, em particular). As emissões sonoras associadas a estas tecnologias perturbam seriamente o ecossistema marinho. Estes sinais chegam diretamente aos organismos animais, causam lesões irreversíveis (orelhas, bexigas natatórias, etc.), causam hemorragia interna, e embaçam a orientação espacial – fenómenos que também podem causar encalhamento de cetáceos.
Através do prisma da sua voz, Violaine Lochu tenta dar conta da partilha territorial e das complexas interligações entre as componentes do mundo marinho. Graças a um dispositivo de amplificação que lhe permite espacializar o som em dois pontos distintos, e um efeito de reverberação que recorda a qualidade das gravações subaquáticas, ela brinca com a noção de chamada, diálogo, voz dupla, localização mútua, interferência… O vocabulário que ela utiliza reúne sons humanos e não humanos – estalidos de cachalote, buzinas de nevoeiro, bipes de sonar, martelos de perfuração, canções de baleias azuis, apitos de golfinhos…
Ela criou uma espécie de ópera ciborgue que traz em cena o corpo, o espaço e o som. Indiretamente convocada, a figura polissémica da sereia (mulher-peixe mitológica com uma canção irresistível – provavelmente inspirada na das baleias – ou dispositivo humano que emite sons de alarme) condensa as questões levantadas, deslocando-as poeticamente em direção a uma canção proteana no cruzamento dos três registos: animal, humano, máquina.