Catálogo da exposição Falso Sol, Falsos Olhos, individual de Élisa Pône, que esteve patente na Galeria Quadrum entre 21 de novembro de 2020 e 13 de janeiro de 2021, com curadoria de Estelle Nabeyrat. Esta edição bilingue (português e francês) reúne textos de Tobi Maier, Estelle Nabeyrat, Rita Barreira e um descartável com uma intervenção de poesia concreta de António Contador. Contém também a reprodução fotográfica das obras expostas e o registo da montagem e desmontagem das mesmas.
“No seu trabalho, Élisa Pône faz referência direta à iniciativa de Dulce d’Agro, fundadora da Galeria Quadrum, de instalar sensores de movimento. O vídeo online Como uma luva (2020) evoca o desejo institucional de segurança dentro das galerias de exposição. A instalação Memory Flood (2020) examina o espaço e emite frequências de luz que variam com a temperatura e a humidade. As colunas, que anteriormente serviam de suporte aos «sensores de movimento», ostentam agora altifalantes que emitem música eletrónica composta por Pône a partir de sons de turbinas eólicas e de aves.”
– Tobi Maier
“Cada uma das suas obras constitui uma nova oportunidade de experimentação formal. Mas é também uma experiência do tempo para o espetador, e um desafio que vem pôr o próprio tempo à prova. Pois as suas obras estão suspensas por uma forma historiográfica singular: elas existem e advêm através do evento, através «daquilo que acontece» aos elementos pelo desencadeamento de um processo de consumo de matéria. Esse curto tempo de transição é a condição do devir artístico de cada obra em que o procedimento se renova. A obra advém através do tempo e da transformação de um evento incandescente, que lhe dará a sua forma final. Ela existe nesta transição e indica que alguma coisa ocorreu. É aí que Élisa Pône deixa propositadamente margem ao acaso no seu processo de trabalho. É aí que ela perde a sua autoridade/autoria.”
– Estelle Nabeyrat
“9. CÁRIE
debiquemos os nossos empresários
comparemos os nossos prémios
iniciemos as nossas aporias
apostemo-as
copiemo-las
apostadas, copiadas, cariarão”
– António Contador
“A Elisa detecta o agonismo do espaço em lugar da sua especificidade; sinaliza a autoridade do cubo branco enquanto produção de espaço; regista-o na esfera da estatuária pública, ali mesmo, entre jardins e prédios, como parte da fachada dos Coruchéus. Decide-se a derrubar a Quadrum enquanto forma, e a levantar o espaço enquanto agência.”
– Rita Barreira