Catálogo que documenta a exposição Pedro Chorão – O que Diz a Pintura (1971-2016), dividida em dois núcleos: Corpo a Corpo com a Pintura, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, que decorreu entre 11 de novembro de 2016 e 19 de fevereiro de 2017; e A Torto e a Direito, na Fundação Carmona e Costa, que decorreu entre 19 de novembro de 2016 e 7 de janeiro de 2017. Contém textos de José-Luís Porfírio, curador da exposição, e de Pedro Chorão, assim como uma coletânea de textos, escritos entre 1979 e 2009 para outras publicações e agora republicados, de Fernando de Azevedo, Rocha de Sousa, José-Luís Porfírio, Jorge Silva Melo, Paulo Henriques e uma entrevista ao artista conduzida por Alexandre Pomar.
“Sempre evitei falar da minha pintura porque não me parecia adequado ser eu a falar do meu próprio trabalho. Este trabalho é tão pessoal e tão íntimo que, na minha opinião, só terceiros poderão eventualmente falar dele. A minha dificuldade começaria logo por eu próprio não saber explicar uma coisa que acho interessante e curiosa, mas que me deixa sempre perplexo. Ao acabar (parar de pintar um quadro) sinto sempre uma certa perplexidade e desconforto por não ter conseguido melhor. É um pouco como uma insatisfação dentro da satisfação.”
– Pedro Chorão
“Há uma constância de vida e de independência nisto tudo que, desde cedo, cimentou grande respeito pela coerência e coincidência entre a obra e a atitude do seu autor, tão discreto e silencioso quanto ela; há palavras que ecoam ao longo das décadas, as mais das vezes a partir de obras bem diferentes: despojamento, elementaridade, austeridade (material), inacabamento, com Rocha de Sousa falando de uma pintura «sempre em acabamento» e Alexandre Pomar chamando-lhe mesmo, e com inteira justiça, «mestre do inacabado». Daí vem a insatisfação que como Pedro Chorão sugere é um combustível fundamental para continuar a pintar.”
– José-Luís Porfírio
“Vendo bem, os quadros de Pedro Chorão são feitos de um quase nada, os mais feitos, em meu entender. O que é logo, o mais difícil de tudo para um pintor, e ainda mais de reparar se não é isso apenas um assomo hábil, mas, mais precisamente, um despojar-se, um significar-se sem ênfase, saber que o muito se reduz ao tamanho da sua verdade na perseguição que se faça ao encontro do essencial.”
– Fernando de Azevedo [1979]
“O gesto solto, a tinta líquida, a cor seca, a escrita à flor da luz, signos, colagens e afloramentos figurativos – eis alguns dados caracterizadores da pintura de Pedro Chorão, agora, ontem, talvez amanhã. Mas o quadro de agora não é imediato no fazer, ainda que o pareça; a sua velocidade de formulação corresponde apenas ao fingimento do operador: este reflecte com demora no silêncio solitário de cada espera, inventa o instante, o gesto, a medida, o «acaso», e assume depois a mentira de tudo isso – para dizer a verdade, para dizer a sua verdade. Então a pintura ganha um tempo curtíssimo na relação visual com o espectador, solicita-o para a mesma verdade quase explosiva, vence os segredos intransmissíveis das várias paragens.”
– Rocha de Sousa [1981]
“Alexandre Pomar: Quando pinta, o quadro é previamente programado?
Pedro Chorão: Tenho o quadro previamente definido, mas é evidente que, depois, sai sempre uma coisa diferente… a não ser que se conseguisse registar fotograficamente aquilo em que se pensou.”
– Alexandre Pomar, Pedro Chorão [1994]
“Se o caminho sempre em mutação de Pedro Chorão é tão comoventemente vivido – é porque a sua carne viva não é a que vemos no talho, nem a sua ferida sangra, ele sorri da vida passada, brinca, recomeça, surge, ressurge, retoma, apolíneo, austero, sensível, volta, sem pathos, sem a hipótese de espectáculo ou narcisismo: são linhas e manchas da vida cruzada, pegadas, a aérea transformação da luz, a leve transição do presente em passado, memórias tenras, sozinhas e límpidas, a dor é flor do dia que acaba indo-se, éter.”
– Jorge Silva Melo [2005]
“Desde o início da década de 1970 até à actualidade, Pedro Chorão teve, na produção artística em Portugal, uma postura ética de grande rigor, avesso, mesmo por temperamento, à exploração mediática de si ou do seu trabalho, sentindo o exercício da pintura como necessidade íntima, a sua obra gerando-se numa continuidade discreta, numa relação apaixonada com a própria pintura, atitude romântica residual e rara na contemporaneidade.”
Paulo Henriques [2009]