Esta publicação acompanha a exposição de Pedro Calapez e Alexandre Conefrey, Um estranho aqui cheguei, patente no Pavilhão Branco entre 18 de setembro e 14 de novembro de 2021, com curadoria de Sérgio Fazenda Rodrigues. Contém textos de Tobi Maier, Sérgio Fazenda Rodrigues, José Gil e Nuno Vieira de Almeida, assim como reproduções das obras expostas.
“A epifania para esta exposição foi desencadeada quando os artistas descobriram uma paixão partilhada pelo ciclo de canções Winterreise, que consiste de vinte e quatro temas para voz e piano compostos por Franz Schubert no outono de 1827, um ano antes de falecer, para poemas de Wilhelm Müller.”
-Tobi Maier
“Na verdade, procurando um sentido de unidade que se ativa com a perceção do visitante, ou com a demora inerente ao percorrer do espaço, a exposição questiona a inquietude romântica, repensando a violência da surpresa que, frequentemente, vem arreigada à mudança da escala. O repensar dessa inquietude, que abdica do embate, procura o que é complementar e indaga o Homem na sua capacidade de ação. Na verdade, evitando o confronto e plantando a dúvida, o que a exposição ambiciona é contrapor ao drama romântico um estado de cuidado que se instaura de forma subtil, mas subversiva.”
-Sérgio Fazenda Rodrigues
“As peças de Conefrey entram em contraponto com as de Calapez, graças à montagem de Sérgio Fazenda Rodrigues. Visa-se a complexidade maior: o visitante participa na «coreografia» preparada pelo curador. Em cada sala, o seu percurso vai dos quadros «envolventes» de Calapez às pequenas peças de Conefrey, dispostas a diferentes alturas do chão. Passa-se da unidade visível (mas pluralidade virtual) das telas de Calapez à multiplicidade real de Conefrey, sendo o próprio corpo do visitante o tradutor deste vaivém. Quando dois olhares se cruzam num terceiro, o fundo obscuro difracta-se em muitas imagens: a viagem multiplica os caminhos.”
-José Gil
“O que é muito interessante e revela um pouco a «inspiração» na obra prima musical é que Conefrey apresenta também uma série de pequenas pinturas, pigmento sobre papel, onde esse «rasto» do objeto é agora totalmente subsidiário em relação à imagem gerada: sabemo-lo presente, mas essa presença já não é nítida, antes pelo contrário, a mancha por ele provocada, amplificada ou diminuta, é a nova razão de ser do objecto pictórico. Leio assim a transposição da noção de mobilidade e de transformação em algo ominoso presente na música.”
-Nuno Vieira de Almeida