Publicação referente à exposição homónima que esteve patente no Pavilhão Branco entre 19 de julho e 27 de setembro de 2020, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez. Composta por textos escritos por Tobi Maier, António Neto Alves, Miguel von Hafe Pérez e José Carneiro, assim como fotografias das obras expostas, numa parceria editorial com a Stolen Books.
“As fotografias, livros, cartazes, fanzines, folhetos, revistas e capas de discos apresentados na galeria e reproduzidos nesta publicação refletem um entusiasmo profundo, bem como uma curiosidade insaciável pela pesquisa sobre o rico universo visual que constitui o legado da cena musical punk e pós-punk anglo-saxónica em ambos os lados do Atlântico. Este interesse culminou numa coleção de objetos visuais efémeros que é, possivelmente, única na Península Ibérica.”
– Tobi Maier
“O meu fascínio por estes temas começou com uma reedição, dos anos 80, do Ip The Velvet Underground & Nico. Os Velvet Underground foram os primeiros a sintetizar perfeitamente a convergência entre rock, literatura, cinema e artes plásticas, entrecruzando, entre outros, Andy Warhol, Delmore Schwartz, Stephen Shore, Jonas Mekas, Tony Conrad e Walter de Maria. A síntese destes universos produziu sob a batuta de Warhol mas com a participação determinante de Lou Reed, dois livros-objecto essenciais para a compreensão da arte contemporânea dos E.U.A., naquela época – a Aspen Magazine (Phyllis Johson, Vol. 1 No. 3, 1966) e o Index Book (Random House, 1967). Verdadeiras caixas-surpresa multidisciplinares da vanguarda norte-americana que se desdobram em pequenas litografias, flip books e discos, estas edições foram os catalisadores da colecção que serve de base à exposição velvetnirvana.”
– António Neto Alves
“A consciente e prevalecente estética D.I.Y. (do it yourself) [faça você mesmo] que atravessa grande parte das bandas presentes nesta exposição não nos deve enganar: a qualidade musical, a pertinência poética e a estruturada reação a meios sociais conservadores e tendencialmente castradores de uma criatividade disruptiva, marcaram definitivamente a paisagem cultural deste período. É, aliás, no explosivo encontro entre Lou Reed e John Cale que muito simbolicamente se consubstanciam duas vertentes deste mundo complexo: um poético, inspirado na rua e nas suas histórias, outro mais cerebral e erudito.”
– Miguel von Hafe Pérez
“Muitos destes objectos estão presentes na exposição velvetnirvana e continuam activos, porque não são apenas testemunhos da história do Punk e dos seus desdobramentos, não são exercícios de memória, vêm alertar para a invenção e inversão de uma cultura visual que tende a ser desvalorizada. […] Esta amplitude de objectos apresentados permite constatar que a componente sonora do Punk se miscigenou com um património gráfico que, de tempos em tempos, normalmente em momentos de forte tensão social e política, é recuperado, revisitado e adulterado a partir de uma metodologia de fabrico instável, de produção crua e espontânea mas urgente e actuante no seu discurso.”
– José Carneiro