– 16.11.2016
Sábado e Domingo: 14h-18h
A VIDA ESTÁ LÁ FORA é uma exposição de curadoria coletiva, concebida pelos alunos da primeira edição da pós-graduação em Curadoria da Arte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Após a invenção da perspetiva como sistema de representação, a figuração deslocou-se para o lugar do espetador – para a forma como o mundo se lhe apresenta e interpela o olhar e os sentidos.
Assim, o exercício da representação desinteressou-se do real preferindo explorar os mecanismos que o percecionam ou o seu simulacro: um sistema de artifícios cada vez mais hábil, cada vez mais distanciado da origem. Ora, o simulacro não é uma presença, é uma ausência porque representar é substituir e transferir.
O simulacro, no limite da sua perfeição, fixa uma realidade paralela, que é controlável e por isso preferível ao original. Paradoxalmente, parece garantir também uma espécie de “acesso imediato ao Real”.
Por exemplo, os parques temáticos e os reality shows transmitem a ideia de que a experiência verdadeira do mundo e das relações sociais devem ser artificialmente intensificadas para serem percebidas como autênticas. Assim, este título tanto sugere uma divagação nostálgica, como uma insurreição contra o simulacro que nos encerra e que nos apela a sair, para fora. A VIDA ESTÁ LÁ FORA lança um convite para um percurso no qual categorizamos os simulacros em três temas.
Num primeiro momento, num contexto imaginário a que chamaremos de COMÍCIO, evoca-se o aglomerado social e a utopia de entendimento. A linguagem une a humanidade na igual proporção em que a divide, organiza-a segundo escalões de poder e estratifica-a burocraticamente. Quer como instrumento de controlo remoto quer como miragem de rutura, liberdade e de entendimento, a comunicação está povoada das interferências de uma maldição babélica.
Nesta nuvem conceptual cabe a cacofonia propagandística no vídeo de Susana Gaudêncio, a redução de um sentido e conteúdo num texto fundamental pela sua transcrição para um código digital, em João Onofre, ou Pedro Barateiro, onde a “argumentação” dos elementos é substituída por “negociação” e o “intercâmbio” por “consumo”. Num segundo momento, na zona CINEMATÓGRAFO, artilha-se um mecanismo de imersividade.
A experiência no cinema é, primeiro, física: o silêncio e a escuridão, simultaneamente individual e coletiva. O pulsar do sangue e a intermitência da respiração tornam-se audíveis no escuro. Despertado o cinematógrafo – a cada grão de luz na engrenagem, no ruído, na desfocagem, na dissolução da imagem – ele opera como a memória: de forma anacrónica, em sobreposição, em direto, diferido e em looping.
Assim reverberam as instalações de Susana Anágua e Daniel Barroca. Como um simulacro do olho, o cinema dirige o olhar e controla a sua indisciplina. A lente é uma prótese que supera as limitações do olhar e estende a profundidade de campo. Quando o diafragma se contrai ao seu máximo encerramento (João Paulo Serafim), quase nos devolveria à escuridão não fossem os fantasmas da imagem e da persistência retiniana (José Luís Neto).
Num terceiro e último momento, um JARDIM imaginário prefigura a réplica perfeita.
Vagamente evocativos de recreio, os jardins e os parques são espaços de interrupção da vida ativa para dar lugar ao lazer e convívio ao ar livre, de forma moderada, controlada e circunscrita por uma vedação, como nas paisagens comprimidas de Brígida Mendes.
Hoje são o produto de uma sociedade pós-industrial ociosa, que perdeu as coordenadas de regresso à natureza selvagem e à qual resta apenas o decifrar da sua arqueologia (Marta Castelo) e procurar presságios nos arquivos de cadáveres presos por alfinetes.
Este núcleo apresenta uma revisitação crepuscular de “jardim”, de ecos distantes perscrutados por Nuno da Luz.
Convocam-se em tom nostálgico as naturezas-mortas, as paisagens ausentes, os taxidermistas e as classificações num território-maqueta estagnado, pantanoso e labiríntico.
Assumindo que a perceção das realidades depende de uma orgânica química variável, surge a proposta de Ricardo Jacinto: estranha arquitetura, esta, que a natureza replica, dentro e fora de nós.
Já em António Júlio Duarte, um vislumbre de voyeurismo: entre o espaço interior e exterior construímos fronteiras que delimitam o público do privado.
Tudo termina onde começa: na linha de horizonte, o cordel omnipresente que nos informa das orientações e medições que temos do mundo.
Este está num beco e esconde uma mensagem. Aproximamo-nos para ler: A vida está lá fora (título da peça homónima de André Alves).
O núcleo de alunos desta pós-graduação agradece ao corpo de artistas e galerias que, gentil e gratuitamente, acederam em participar nesta mostra.
– 16.11.2016
Sábado e Domingo: 14h-18h