A Vida Está Lá Fora

André Alves, António Júlio Duarte, Brígida Mendes, Daniel Barroca, João Onofre, João Paulo Serafim, José Luís Neto, Marta Castelo, Nuno da Luz, Pedro Barateiro, Ricardo Jacinto, Susana Anágua, Susana Gaudêncio

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A VIDA ESTÁ LÁ FORA é uma exposição de curadoria coletiva, concebida pelos alunos da primeira edição da pós-graduação em Curadoria da Arte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Após a invenção da perspetiva como sistema de representação, a figuração deslocou-se para o lugar do espetador – para a forma como o mundo se lhe apresenta e interpela o olhar e os sentidos.

Assim, o exercício da representação desinteressou-se do real preferindo explorar os mecanismos que o percecionam ou o seu simulacro: um sistema de artifícios cada vez mais hábil, cada vez mais distanciado da origem. Ora, o simulacro não é uma presença, é uma ausência porque representar é substituir e transferir.

O simulacro, no limite da sua perfeição, fixa uma realidade paralela, que é controlável e por isso preferível ao original. Paradoxalmente, parece garantir também uma espécie de “acesso imediato ao Real”.

Por exemplo, os parques temáticos e os reality shows transmitem a ideia de que a experiência verdadeira do mundo e das relações sociais devem ser artificialmente intensificadas para serem percebidas como autênticas. Assim, este título tanto sugere uma divagação nostálgica, como uma insurreição contra o simulacro que nos encerra e que nos apela a sair, para fora. A VIDA ESTÁ LÁ FORA lança um convite para um percurso no qual categorizamos os simulacros em três temas.

Num primeiro momento, num contexto imaginário a que chamaremos de COMÍCIO, evoca-se o aglomerado social e a utopia de entendimento. A linguagem une a humanidade na igual proporção em que a divide, organiza-a segundo escalões de poder e estratifica-a burocraticamente. Quer como instrumento de controlo remoto quer como miragem de rutura, liberdade e de entendimento, a comunicação está povoada das interferências de uma maldição babélica.

Nesta nuvem conceptual cabe a cacofonia propagandística no vídeo de Susana Gaudêncio, a redução de um sentido e conteúdo num texto fundamental pela sua transcrição para um código digital, em João Onofre, ou Pedro Barateiro, onde a “argumentação” dos elementos é substituída por “negociação” e o “intercâmbio” por “consumo”. Num segundo momento, na zona CINEMATÓGRAFO, artilha-se um mecanismo de imersividade.

A experiência no cinema é, primeiro, física: o silêncio e a escuridão, simultaneamente individual e coletiva. O pulsar do sangue e a intermitência da respiração tornam-se audíveis no escuro. Despertado o cinematógrafo – a cada grão de luz na engrenagem, no ruído, na desfocagem, na dissolução da imagem – ele opera como a memória: de forma anacrónica, em sobreposição, em direto, diferido e em looping.

Assim reverberam as instalações de Susana Anágua e Daniel Barroca. Como um simulacro do olho, o cinema dirige o olhar e controla a sua indisciplina. A lente é uma prótese que supera as limitações do olhar e estende a profundidade de campo. Quando o diafragma se contrai ao seu máximo encerramento (João Paulo Serafim), quase nos devolveria à escuridão não fossem os fantasmas da imagem e da persistência retiniana (José Luís Neto).

Num terceiro e último momento, um JARDIM imaginário prefigura a réplica perfeita.

Vagamente evocativos de recreio, os jardins e os parques são espaços de interrupção da vida ativa para dar lugar ao lazer e convívio ao ar livre, de forma moderada, controlada e circunscrita por uma vedação, como nas paisagens comprimidas de Brígida Mendes.

Hoje são o produto de uma sociedade pós-industrial ociosa, que perdeu as coordenadas de regresso à natureza selvagem e à qual resta apenas o decifrar da sua arqueologia (Marta Castelo) e procurar presságios nos arquivos de cadáveres presos por alfinetes.

Este núcleo apresenta uma revisitação crepuscular de “jardim”, de ecos distantes perscrutados por Nuno da Luz.

Convocam-se em tom nostálgico as naturezas-mortas, as paisagens ausentes, os taxidermistas e as classificações num território-maqueta estagnado, pantanoso e labiríntico.

Assumindo que a perceção das realidades depende de uma orgânica química variável, surge a proposta de Ricardo Jacinto: estranha arquitetura, esta, que a natureza replica, dentro e fora de nós.

Já em António Júlio Duarte, um vislumbre de voyeurismo: entre o espaço interior e exterior construímos fronteiras que delimitam o público do privado.

Tudo termina onde começa: na linha de horizonte, o cordel omnipresente que nos informa das orientações e medições que temos do mundo.

Este está num beco e esconde uma mensagem. Aproximamo-nos para ler: A vida está lá fora (título da peça homónima de André Alves).

O núcleo de alunos desta pós-graduação agradece ao corpo de artistas e galerias que, gentil e gratuitamente, acederam em participar nesta mostra.

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