– 02.08.2015
Tributo a um planeta ameaçado
Génesis é uma jornada em busca do planeta como ele existiu desde a sua formação e na sua evolução, antes que a vida moderna se acelerasse e nos afastasse do núcleo essencial. É uma busca das paisagens terrestres e aquáticas até hoje intocadas; uma viagem em direcção aos animais e grupos humanos que conseguiram escapar das transformações impostas pelo mundo contemporâneo. Génesis comprova que o nosso planeta ainda abriga vastas e remotas regiões onde a natureza reina em imaculada e silenciosa majestade.
Estas maravilhas foram encontradas nos circuitos polares e em florestas tropicais, em extensas savanas e nos tórridos desertos, em montanhas geladas e ilhas desertas, lugares às vezes excessivamente gélidos ou escaldantes, onde apenas as mais resistentes formas de vida perseveram. Outros recantos tornaram-se lar de animais ou de povos ancestrais cuja sobrevivência depende fundamentalmente do isolamento em que se mantêm. O conjunto forma em esplendoroso mosaico da natureza em toda a sua grandiosidade original.
É essa beleza oculta, defendida, protegida que Génesis deseja compartilhar. Fazemos um tributo a esse frágil planeta que temos o dever de proteger.
– Lélia Wanick Salgado, curadora
Sul do Planeta
Conta a história da Antártida, das suas paisagens geladas e das suas zonas costeiras, com a sua perseverante fauna, pinguins, leões-marinhos e baleias, nomeadamente as fotografadas no seu território de reprodução, nas península de Valdés. Depois as ilhas Geórgia do Sul, as Malvinas, o arquipélago Diego Ramírez e as ilhas Sanduíche do Sul, onde numerosas espécies de pinguins, albatrozes, petreís gigantes e cormorões fazem a sua vida.
Santuários
Traz-nos as inigualáveis paisagens vulcânicas e fauna das ilhas Galápagos e inclui as ancestrais populações da nova Guiné e da Papua Ocidental, os Mentawai da ilha Siberut da província indonésia de Sumatra, assim como as paisagens, vida selvagem e vegetação dos diversos ecossistemas de Madagáscar.
África
Oferece uma enorme variedade de paisagens, desde a vida selvagem do delta do Okavango, no Botswana, aos gorilas do Parque nacional de Virunga na fronteira da República Democrática do Congo com o Ruanda, Congo e Uganda; dos povos Himba da Namíbia e das tribos Dinkas do Sudão, ao povo San do deserto do Kalahari no Botswana; das tribos do vale de Omo no sul da Etiópia. África desvela uma notável panóplia de desertos; as suas diferentes tonalidades, as suas texturas do arenoso ao rochoso; alguns, planos como oceanos, outros, interrompidos por montanhas áridas. Ainda assim, em algumas paisagens da Líbia e da Argélia, para além de cactos há também sinais de vida e ar rupestre datada de há milhares de anos.
Terras a Norte
Mostra as paisagens do Alasca e do planalto do colorado, nos EUA, paisagens do Parque Nacional Kluane e a vida selvagem da ilha Baffin, no Canadá. O norte da Rússia, incluindo o território de reprodução do urso polar na ilha de Wrangel, assim como as populações indígenas do norte da Sibéria e da península de Kamchatka.
Amazónia e Pantanal
O Amazonas e os seus afluentes, vistos do ar, assemelham-se a uma gigante árvore da vida, com braços e mãos estendidos do coração do Brasil até aos países vizinhos. A norte regista os tepuis venezuelanos, a mais antiga formação geológica do planeta, assim como a vida selvagem do pantanal em mato Grosso, no Brasil. Há ainda imagens da tribo índia Zo’é, descoberta apenas há duas décadas, e das tribos mais assimiladas da bacia do alto Xingu, também no Brasil.
Instituto Terra: uma utopia concretizada
Além de trazer aos olhos do público a beleza de povos isolados e paisagens grandiosas, Génesis representa uma convocatória para a batalha. O facto é que não podemos continuar a poluir o nosso solo, a nossa água e o ar. Precisamos agir de imediato para preservar terras e águas ainda intocadas, e para proteger o ambiente-santuário de animais e povos ancestrais. E devemos ir além. Devemos tentar reverter os danos.
A nossa modesta contribuição foi reflorestar um terreno na região sudeste do Brasil. Nos últimos 15 anos, o Instituto Terra – a nossa organização sem fins lucrativos – plantou cerca de dois milhões de árvores, de mais de 300 diferentes espécies que já floresceram por lá. O resultado: encostas esgotadas e áridas ganharam uma vegetação exuberante. O renascimento deste microclima tropical atraiu, por sua vez, pássaros e animais que não eram vistos naquela área há décadas.
A reflorestação é uma das maneiras de recuperar o tempo perdido e o prejuízo causado. As árvores ainda desempenham o papel central na neutralização das emissões de dióxido de carbono responsáveis pelas alterações climáticas, como o aquecimento global. Leis e governos podem tentar controlar estas emissões, mas somente as árvores conseguem absorver o dióxido de carbono e produzir oxigénio. Cada árvore plantada alivia um pouco as nossas preocupações quanto ao futuro do planeta.
– Lélia Wanick Salgado e Sebastião Salgado
“Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro mundialmente consagrado, apresenta em Lisboa a exposição Génesis que, encarada como um tributo ao planeta, o transportou até junto de lugares e comunidades recônditas. À semelhança de trabalhos anteriores, também esta selecção de fotografias interpela profundamente o nosso olhar e convoca-nos no sentido de uma abertura de espírito para acolher e rever o outro em nós – seja ele um humano, um animal ou uma paisagem.
Génesis reúne um conjunto de 245 fotografias captadas ao longo de oito anos de viagem. Nelas se faz uma aproximação à origem do mundo como se de uma revelação se tratasse: lugares quase intocados pelo homem ou rostos de que emana uma pureza ancestral. Génesis é também um grito de alerta, a «carta de amor ao planeta» que Sebastião Salgado partilha com o público. As imagens seleccionadas por Lélia Wanick Salgado, mulher do fotógrafo e curadora da exposição, apelam justamente à nossa reconciliação com um tempo forçosamente utópico, de irmandade e tolerância entre homens de todas as regiões – e de todas as religiões – propondo, através do conforto desarmado com a natureza virgem, uma reflexão séria em torno da salvaguarda do planeta Terra.
A Câmara municipal de Lisboa, através da EGEAC, e em parceria com a Terra Esplêndida, alia-se assim a este grandioso trabalho documental e traz até junto do público português Génesis, fazendo seu o apelo de Sebastião Salgado: pela observação da paz e do respeito intrínseco entre os homens e destes para com o meio ambiente, em nome da sustentabilidade e da vida.”
– Catarina Vaz Pinto, Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa
– 02.08.2015