Potência e Adversidade: Arte da América Latina nas Coleções em Portugal

Ana Mendieta, Ângelo de Sousa, Anna Maria Maiolino, Antoni Muntadas, Antonio Dias, Artur Barrio, Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Horacio Zabala, Lydia Okumura. Albino Braz, Ana Maria Tavares, Analia Saban, André Komatsu, Carmela Gross, Damián Ortega, Detanico & Lain, Emmanuel Nassar, Eugenio Dittborn, Gabriel Orozco, Gabriel Sierra, Ignasi Aballí, Iran do Espírito Santo, Jac Leirner, Juan Araújo, Juan Munõz, Leonor Antunes, Letícia Ramos, Lothar Baumgarten, Magdalena Jitrik, Manuel Álvarez Bravo, Manuel Ocampo, Marepe, Mauro Restiffe, Nelson Félix, Nicolás Robbio, Paulo Nazareth, Raimundo Camilo, Rosângela Rennó, Tamar Guimarães, Tunga, Waltércio Caldas

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O principal objetivo da exposição Potência e adversidade – arte da América Latina nas coleções em Portugal é a identificação de alguns nexos históricos que ainda passam à margem das narrativas institucionalizadas sobre a produção artística da América Latina. De forma a contornar a fragmentação intrínseca às diversas coleções aqui presentes, a exposição incide sobre um ângulo histórico demarcado – a produção artística da década de 1970 até hoje –, e percorre produções de artistas especialmente importantes para entender a vitalidade e originalidade de países tão diversos quanto a Argentina, Brasil, Cuba, México, Chile, Venezuela ou Colômbia. Tratando-se de uma seleção com inevitável contingência, a exposição estabelece dois núcleos distintos, distribuídos pelo Pavilhão Branco e Preto. Um primeiro núcleo de artistas seminais ou “históricos” – Cildo Meireles, Artur Barrio, Horacio Zabala, Anna Maria Maiolino, Antoni Muntadas, Ana Mendieta, Lydia Okumura, Raimundo Camilo, Lothar Baumgarthen, António Dias, Ângelo de Sousa, Eugenio Dittborn, Hélio Oiticica – que faz referência direta aos “conceptualismos” experimentais de vários países da América Latina (e Europa) na década de 70 e início dos anos 80. E um segundo núcleo, mais recente, agregando cerca de sessenta obras de quarenta artistas que configura desdobramentos do denominado “legado conceptual”.

Os anos “quentes” de lutas sociais, contra as ditaduras e a repressão no mundo representados pela década de 1970 são marcados por uma produção cultural inédita, engajada em romper os lugares-comuns habitualmente associados à América Latina. Reivindica-se o fim das estruturas de opressão dos Estados, estabelecem-se conexões entre a produção artística e a formação política e ideológica, num misto de radicalidade e marginalidade, de arte e vida. Um cenário de efetiva flexibilização intercultural, fruto da circulação intensa de artistas, alguns deles em exílio, faz despontar problemáticas “pós-modernas” e “pós-coloniais”. Invertem-se as ideias de centro e periferias e propõem-se alternativas culturais ao mito civilizacional da modernidade ocidental.

Afastando-se da problemática do “multiculturalismo” e da “interculturalidade”, a exposição Potência e adversidade – arte da América Latina nas coleções em Portugal aborda relações entre arte e política e procura colocar em evidência “pontos de vista críticos” (ou paradigmas “daqui”), que recusam ser meras apropriações da cultura internacional.

Um número significativo de trabalhos em exposição denuncia um particular tom de “fim de festa” que barra o otimismo da frase emblemática de Mário Pedrosa: “arte, exercício experimental de liberdade”. Face ao contexto político autoritário em ascensão, nos últimos anos, em diversos países da América Latina, potência e adversidade contaminam as visões de futuro.

– Marta Mestre, curadora

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Título
Textos de
Potência e Adversidade: Arte da América Latina nas Coleções em Portugal
Catarina Vaz Pinto, Joana Gomes Cardoso, António Pinto Ribeiro, Marta Mestre, Cildo Meireles, Pedro Barateiro