– 22.12.2024
Tratado é uma exposição centrada em retratos de familiares e de amigos de José M. Rodrigues. As fotografias agora reveladas relacionam-se também com os lugares onde foram tiradas, a natureza a envolver as pessoas, a paisagem como pano de fundo. Obras sobretudo inéditas, a cores, um vídeo formado por uma antologia de imagens, uma colecção de espelhos: há muitas histórias que nos chegam destes instantes onde artista e modelo comungam um mesmo propósito: a eternidade de um segundo.
A exposição pode ser descrita como um tratado do amigo e do amado, na senda do texto escrito pelo catalão Ramon Llull, no século XIII:
“Com a sua imaginação o amigo pintava e reproduzia as feições de seu Amado nos seres corporais, com seu entendimento as aprimorava nos seres espirituais, e com a vontade as adorava em todas as criaturas.”
Cada fotografia funciona como um versículo. Os instantâneos fixam o tipo de relações que José M. Rodrigues mantém com o retratado – palavra que inclui “tratado”. A negociação passa pela escolha de um lugar, que, no seu conjunto, compõem uma pessoalíssima geografia sentimental: Atlântico – Mediterrâneo.
O espelho, que reflecte, que distorce, que especula, é um objecto omnipresente neste novo conjunto de fotografias. Rostos e corpos contemplam-se e são contemplados pelo olhar de José M. Rodrigues, que procura também o horizonte da paisagem marítima como ponto de equilíbrio de uma imagem.
As dimensões cinematográfica e pictórica dos instantâneos são também uma evidência. Podiam ser fotografias de cena de um filme de autor ou pinturas de um mestre setecentista. São sobretudo imagens de uma limpidez, de uma lucidez, de uma fisicalidade tão intensas que nos sentimos próximos dos amigos e dos amores de José M. Rodrigues.
Em “Tratado” são dadas a ver obras de um fotógrafo na sua maturidade. De repente, é o mais próximo que se torna urgente dar a ver. Nada importa mais do que o amor e a amizade, o azul no céu em comunhão com um mar raso como o chão, uma flor que esconde a face de um ente querido entretanto falecido. A exposição é percorrida por alegrias e dores. A vida no seu esplendor.
– Óscar Faria, curador
Descarregue aqui a Folha de Sala para Crianças.
– 22.12.2024