Com esta comunicação pretende-se propor uma breve introdução à obra multifacetada de Manthia Diawara, escritor, cineasta e teórico cultural. Seguindo o seu percurso biográfico a partir das narrativas que dele nos oferece nos seus livros e filmes, salientar-se-á a importância das histórias pessoais e coletivas que nos vai oferecendo num registo e numa voz inconfundíveis, sempre em torno de uma África multissituada que o persegue constantemente – seja como fonte de inspiração ou de inquietação, seja ponto de ancoragem ou objeto de análise, nunca totalmente distanciada, face às dores e aos prazeres do exílio. Viajando entre a África, a Europa e as Américas, Diawara oferece-nos histórias que abordam temas decisivos para a nossa contemporaneidade, em que os desequilíbrios pós- e neocoloniais, associados às migrações e turbulências identitárias delas decorrentes, são um tema recorrente e fundamental, também para Portugal, sempre a braços com o seu passado colonial, os atuais desafios da mundialização e a necessidade de descolonizar o seu imaginário e a suas autorrepresentações nacionais
Filmes:
In Search of Africa (1997, Mali, 26’)
Realizador: Manthia Diawara; Produção: Manthia Diawara; Montagem: Beverly Petterson, Lora Hayes, Jim Underwood; Imagem: Melvin Estrela, Arthur Jafa, Rene Gabri, Medoune Ndiaye, Barry Dia, Catherine Retat; Som: Paul Michael; Com: Maryse Condé, Mamadou Gologo, Mancona Kouyaté, Suret-Canal, Jane Martin Cissé; Legendado em inglês
Em 1996 o cineasta e escritor Manthia Diawara retorna à Guiné trinta e dois anos depois de ele e a sua família terem sido expulsos do país recém-libertado. Apesar dos anos que passaram, Diawara espera ser recebido como um insider, e fica chocado ao descobrir que ele já não o é.
Rouch in Reverse (1995, Mali, 52’)
Realizador: Manthia Diawara; Produção: Parminder Vir, Formation Films; Montagem: Sikay Tang, Justine Krish; Imagem: Arthur Jafa, Khalid Frikha; Som: Bernard Pichon; Com: Jean Rouch; Legendado em inglês
Neste controverso documentário Manthia Diawara critica a antropologia visual através da obra de Jean Rouch. O filme consiste num diálogo envolvente entre a África francófona pós-colonial e o seu opressor anterior, a França. Comumente, os espectadores são submetidos a uma perspetiva europeia, que proporciona um olhar distante sobre a cultura africana, objetivando os africanos ou, talvez, “outrizando” essa comunidade. Este filme, no entanto, inverte essa relação através de um exame da vida e dos filmes etnográficos de Jean Rouch. Rouch discute o estado da sociedade franco-africana contemporânea a partir de uma perspetiva exclusivamente africana. Rouch também discute o corpo do seu trabalho, bem como a sua visão geral sobre a vida, com paixão e honestidade. Diawara e Rouch falam de forma intrigante ao longo de “Rouch in Reverse”.