Galerias Municipais no Lisbon Art Weekend
Visita com artista Márcio Carvalho e Tobi Maier, diretor das Galerias Municipais à exposição O Estado do Mundo: Museu do Atlântico Sul (curadoria Marcelo Rezende) que apresenta obras de Assaf Gruber, Charbel-joseph H. Boutros, Gisela Casimiro e Rodrigo Ribeiro Saturnino (ROD), Jacira da Conceição, Jonathan Monk, Juraci Dórea, Luisa Mota, Marcelino Santos, Márcio Carvalho, Maxim Malhado, Tenzin Phuntsog, Tuti Minervino, obras de coleções de caráter etnográfico, e publicações do filósofo e educador português Agostinho da Silva.
Num documento elaborado na capital baiana em 1965 (Salvador, no nordeste do território brasileiro), em três páginas datilografadas o filósofo, educador e editor português Agostinho da Silva introduz a sua ideia, de estabelecer uma nova instituição museológica numa fortaleza colonial no litoral da Bahia: “Com um material para exposição que não perturbe, mas sim enfatize o valor arquitetônico da fortaleza; com elementos de absoluta clareza didática, mas sem recusar a complexidade e o rigor da ciência, com objetos que, embora de valor intrínseco mínimo, o ganham em alto grau por sua integração no conjunto; compreenderá, o Museu do Atlântico Sul, instalado na fortaleza de São Marcelo, toda a área que vai do alto da Venezuela até à Antártida.”
Com a exposição O Estado do Mundo: Museu do Atlântico Sul o curador Marcelo Rezende aborda diferentes formas que a imaginação de Agostinho da Silva poderia evocar. Na visita guiada organizada para essa ocasião vai estar presente o artista Márcio Carvalho, de Lisboa. Conforme Rezende escreve sobre as obras escolhidas “o artista Márcio Carvalho (com “Memória para 14 Bustos” e “12 placas”) pede uma reflexão profunda sobre as questões políticas envolvidas na ideia do monumento assumindo o papel de documento da História, questionando de que forma e por quem essa memória é representada. Em certos momentos, esse mesmo deslocamento da memória para o espaço da experiência coletiva e pessoal pode ser gravado no próprio corpo.”
E o próprio artista Márcio Carvalho, manifesta sobre a sua apresnetação nas Galerias Municipais – Pavilhão Branco: “As obras que apresento na exposição O Estado do Mundo : Museu do Atlântico Sul tentam dar continuidade à conversa, difícil mas necessária, sobre o poder que os espaços públicos em Lisboa têm sobre a memória e imaginação dos seus cidadãos. As estátuas, os monumentos e memoriais de cariz colonial não são apenas o resultado de específicos momentos históricos e suas celebrações, mas são também a afirmação de projetos políticos materializados em formas estéticas. Muitos destes projetos políticos não mais correspondem aos ideais das nossas sociedades contemporâneas Europeias. Desta forma os trabalhos que apresento na exposição tentam usar a arte para desmistificar ou desrecalcar a atuação política desta formas estéticas coloniais (estátuas, monumentos, memoriais) que podemos encontrar na cidade de Lisboa. As obras, igualmente reclamam um campo expandido para o monumento, onde o mesmo se desprende se suas estéticas figurativas, tradicionais, de cariz religioso, com um dramatismo de estéticas passadas, totalitárias, com um visível desapego às vítimas e comunidades minoritárias, onde a dor, os problemas sociais e as questões políticas não resolvidas são encobertas por gestos arquitetónicos atraentes e imponentes. Estes monumentos de cariz colonial, escondidos ao ar livre, têm a sua maior força na sua invisibilidade política contida na sua forma estética. Se a arte sempre foi a disciplina par excellence usada para forjar estes objectos e suas narrativas hegemônicas, coloniais e consolidá-las como aspectos fundamentais da identidade Portuguesa; hoje, como poderá a arte ter de novo um papel activo, desta vez na re-interpretação e transformação do espaço público e da cidade?”