Auto-qualificados como um “encontro do cinético com a paisagem morta numa selvajaria de jazz-punk-pós-aquático”, Sereias é uma banda sediada no Porto que editou em 2019 o contundente “País a Arder”, na Lovers & Lollypops, para a generalidade do país que não os tava a ver – e a ouvir – nem ao longe. No “centro a poesia mordaz de António Pedro Ribeiro, poeta maldito, anarquista, ex-candidato a Presidente da República, em choque constante com os ambientes turvos, electrónicos e imersivos dos mascadores sónicos que o acompanham”, citando o texto de apresentação da editora. Provocação por vocação, agitar para começar a conversar, o seu campo de ensaio e luta é o do confronto de convenções e o estabelecido – ora tépido, ora pútrido, seja no rock, seja no discurso público – são todo um programa para não entrarmos tão depressa nessa noite escura.
O duo Sirius é constituído por Yaw Tembe na voz e trompete e Monsieur Trinité (Francisco Trindade) nas percussões. Tembe, natural da Suazilândia e residente em Lisboa há vários anos, a meio um pequeno desvio pela Invicta onde frequentou o curso de Escultura na Faculdade de Belas Artes, é um artista que vem desenvolvendo um trabalho multi-disciplinar e rico em colaborações, e um trompetista com um dos timbres mais bonitos que já ouvimos em qualquer sopro português. Francisco Trindade é um lendário improvisador luso com um papel amplo na música nacional desde os anos 70 – começando nos míticos Plexus, passando por trabalho com Sei Miguel e a VGO de Ernesto Rodrigues, até ao trabalho iniciado nesta formação. A Clean Feed editou em 2018 o seu exceptional disco de estreia “Acoustic Main Suite plus The Inner One”, com música extraída a duas sessões de gravação no Panteão Nacional três anos antes.
Sereias “País a Arder” (2019, Lovers & Lollypops) – https://loversandlollypops.bandcamp.com/album/o-pa-s-a-arder
Sirius “Acoustic Main Suite Plus the Inner One” (2017, Clean Feed) – https://youtu.be/d-t8zZM_1TA
Este evento respeita as medidas preventivas Covid-19 em vigor.