Publicação referente à exposição homónima que esteve patente na Galeria Avenida da Índia entre 22 de junho e 8 de setembro de 2019. Contém textos escritos por Stefanie Baumann, Filip De Boeck, Sabeth Buchmann, Avery F. Gordon, Tobi Maier, Maumaus, Manuela Ribeiro Sanches, Gertrud Sandqvist, Alberto Toscano, Giovanbattista Tusa e Emily Wardill, assim como fotografias da exposição.
“O que os curadores preferem não fazer – nem na montagem, nem na folha de sala, nem no seu próprio discurso – é enquadrar conceptualmente a exposição, oferecendo uma lente através da qual a exposição possa adquirir um sentido compreensível. Isto não significa que não exista um sentido a desvendar, pois existe. Pelo contrário, poderá até encontrar-se uma abundância de significações. Mas estas não contribuem para uma interpretação coerente e abrangente.”
-Stefanie Baumann
“O buraco e o seu oposto – a montanha/torre – oferecem metaconceitos topográficos que os habitantes de Kinshasa usam, não só para refletir sobre a degradação material da infraestrutura da cidade, mas também para retrabalhar os fechamentos e a qualidade frequentemente deplorável da vida social que emergiu no seguimento da ruína material da cidade colonial.”
-Filip De Boeck
“Parting with the Bonus of Youth optava por uma abordagem simultaneamente comprimida e aberta (ao significado), ao chamar a atenção para as infraestruturas visivelmente invisíveis que alimentam a produção de objetos artísticos e a produção de conhecimento; e, com isso, para os conteúdos, formas e métodos das atuais práticas expositivas que operam no âmbito das economias pós- e neocoloniais.”
-Sabeth Buchmann
“O filme de Kluge vela sobre todo o espaço, como uma sentinela tremeluzente. Através da livre associação e de um certo tipo de montagem, ambos provocados na exposição como um todo e traduzidos na arquitetura através dos bancos em escada à frente da projeção, o filme vigia e traz para a exposição aquilo que é menos visível no espaço expositivo: a Maumaus enquanto sujeito vivo.”
-Avery F. Gordon
“Aceitar o convite de uma instituição pública (Galerias Municipais) e, ao mesmo tempo, resistir à tentação de se limitar a celebrar os êxitos alcançados pelos seus alunos, abriu um leque de possibilidades à Maumaus e às suas filosofias de ensino, que veriam o seu reflexo na exposição. Contudo, a objetificação do discurso crítico é uma corrente desde o surgimento da crítica institucional, um antecedente que veio complexificar ainda mais o alcance imaginário desta aventura.”
-Tobi Maier
“(…) parafraseando Fichte, a exposição como uma minhoca de gelatina, a surgir ocasionalmente com as impressões cada vez mais débeis do mundo exterior, no limite do ângulo de visão, e a girar em torno de si mesma com os movimentos do globo ocular.”
-Maumaus
“Não há autores, nem indivíduos, nem explicações, mas um constante desafio ao espetador. Não há evocação de futuros ou passados talentos ou doutos mestres. Não há programa, nem história, nem cronologia, muito menos uma doutrina. O que não significa que não haja teoria.”
-Manuela Ribeiro Sanches
“As armadilhas conceptuais eram tão numerosas que eu, enquanto visitante, senti que estava numa pista de obstáculos. Como é que se faz uma exposição sobre um fenómeno como a Maumaus? A exposição mostrava restos de diferentes projetos e aulas, juntamente com objetos que poderiam ser associados à Maumaus, apresentados de forma tão maliciosa que o visitante tinha de conhecer de antemão a história da escola para compreender as referências. Que experiência tão pós-moderna! Um agent provocateur na verdadeira aceção do termo.”
Gertrud Sandqvist
“Embora seja imperativo reconhecer a importância fundamental das ações de guerrilha defensiva para proteger o que resta da universidade enquanto espaço crítico, é cada vez mais difícil considerá-la como possível objeto de, ou meio para, a tomada de decisões comuns. Daqui decorre, também, a importância da Maumaus como o seu próprio tipo de «objeto de interesse», de inter-esse, de estar-com e em-comum.”
-Alberto Toscano
“Mas o objeto não é uma coisa: tem uma estranha existência, que parece não conseguir ser sem outra. O objeto seria sempre aquilo que confronta o sujeito; aquilo que o sujeito manipula a seu bel-prazer e sobre o qual exerce o seu domínio. Diz-se frequentemente que a era moderna consistiria na progressiva divisão ou desprendimento de um sujeito em relação à matéria. Que a modernidade seria a era da objetificação do mundo. O objeto não tem, por isso, existência autónoma, necessitando sempre de confrontar outra pessoa ou outra coisa.”
-Giovanbattista Tusa
“Deambular pela exposição Maumaus as Object não é, de modo algum, um circo, mas ao propor uma separação indefinida entre arte e educação, transparência e opacidade, original e reprodução, o “público” é convidado a entrar num espaço incompleto para se tornar parte de uma dialética que não resultaria se apenas se apercebesse de metade.”
-Giovanbattista Tusa