Catálogo que documenta a exposição individual de Vera Röhm, Sombra do Tempo, que esteve patente no Pavilhão Branco entre 25 de setembro e 4 de novembro de 2007. Contém fotografias das obras expostas e textos de Rui Mateus Pereira, Vera Röhm, Stephen Bann, Eugen Gomringer, João Lima Pinharanda, Hans-Jürgen Buderer, e uma entrevista com a artista por Adon Peres.
“No projecto de Vera Röhm facilmente apreendemos algumas características fundamentais do seu corpo de trabalho, nomeadamente a linguagem organizada em torno de formas geométricas e a exploração de noções binárias – simples e complexo, recorrência e alternância – ou de noções de tempo, espaço e movimento.”
-Rui Mateus Pereira
“O ângulo entre a Terra e o sol, em constante mudança, é claramente reconhecível. Não sentimos a rotação da Terra, de onde estamos, sentimos que a nossa posição é estática, o que não é o caso. Porque estamos todos – até o local – no meio desta dinâmica que, assim, se torna visível.”
-Vera Röhm
“Esta série de esculturas, “A noite é a Sombra da Terra”, é provavelmente a obra de Vera Röhm que mais se aproxima dos protocolos formais e linguísticos da Poesia Concreta como foram desenvolvidos por Gomringer e pelos seus colegas. Não só explora as semelhanças e diferenças entre as línguas – uma característica dos poemas de juventude de Gomringer, que o próprio atribuiu ao seu contacto no passado com culturas linguísticas germânicas e latinas -, mas também faz lembrar directamente o título do poema que ele escolheu para intitular a edição de Die Konstellationen, publicada por Rowohlt em 1969 (o design da cobertura sendo da autoria de Max Bill): “worte sind schatten”. “Palavras são Sombras”, escreve Gomringer.”
-Stephen Bann
“O diálogo como modus operandi é uma pista que se pode seguir em toda a obra de Vera Röhm; a segunda é um vocabulário formal construtivo e o método utilizado para o realizar. Esta observação é ainda mais válida, já que a artista nem sempre cumpre a sequência cronológica dos seus grupos temáticos e está sempre aberta a novas experiências, onde a utilidade está para o método dialógico como uma ciência cognitiva está para o jogo estético-emocional da luz e da sombra.”
-Eugen Gomringer
“Vera Röhm cria um confronto entre macrocosmos e microcosmos, contingência da vontade e acção humanas no espaço da Terra e imutabilidade das leis universais no tempo e espaço siderais. Não procura uma nova hipótese para garantir a eternidade através da Arte mas um caminho para a explicar – se a arte é coisa perecível perante o universo ficamos mais conscientes da nossa própria fragilidade perante uma realidade que nos transcende.”
-João Lima Pinharanda
“Vera Röhm joga com a quantidade óbvia de variações inerentes à oposição entre preto e branco, claro-escuro, e as modulações do chiaroescuro, amplamente demonstrado ao longo da história da arte. A artista dá um passo em frente ao criar terrenos experimentais onde não só explora os factos objectivos de um fenómeno, mas também deduz um novo tipo de aparato formal que, nas suas formas de expressão mais extremas, chega mesmo a contrariar a realidade visual. A obra de Vera Röhm interage entre estes dois pólos de observação e invenção construtiva.”
-Hans-Jürgen Buderer
“Adon Peres: Que lugar ocupa a sombra no teu processo artístico?
Vera Röhm: (…) Interesso-me muito pela sombra porque ela não é material, é impalpável, fugaz e está sempre em movimento. É o contraste entre a materialidade das obras e esse elemento imaterial, aliás como o momento, também impalpável e passageiro, que originou esta pesquisa. É sobretudo a atenção dada à deslocação da sombra, durante um dia inteiro, que me levou ao movimento da terra e ao do sol. E, depois, à astronomia.”
-Adon Peres e Vera Röhm